Saúde

Após 60 anos, medicamento para diabetes passa a afetar o cérebro de forma inesperada

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 55 minutos atrás em 24-11-2025

Imagem: depositphotos.com

A metformina, prescrita há mais de 60 anos para controlar o açúcar no sangue em pessoas com diabetes tipo 2, pode atuar diretamente no cérebro, segundo um estudo recente do Baylor College of Medicine, nos Estados Unidos. A descoberta poderá levar a novos tipos de tratamentos mais eficazes e direcionados.

Até agora, acreditava-se que a metformina atuava principalmente reduzindo a produção de glicose no fígado, com estudos anteriores também a apontarem o intestino como um dos locais de ação do medicamento. No entanto, os investigadores decidiram explorar o papel do cérebro, reconhecido como regulador central do metabolismo da glicose.

A equipa identificou uma proteína cerebral chamada Rap1, presente numa região específica do cérebro chamada hipotálamo ventromedial (VMH). Testes realizados em ratos demonstraram que a metformina chega ao VMH e ajuda a combater o diabetes tipo 2, desativando a proteína Rap1. Quando os ratos eram geneticamente modificados para não possuir Rap1, a metformina deixou de ter efeito sobre a condição semelhante à diabetes, embora outros medicamentos continuassem a funcionar, reforçando a ideia de que a ação da metformina no cérebro segue um mecanismo distinto.

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Além disso, os investigadores conseguiram identificar os neurónios específicos cuja atividade é alterada pela metformina: os neurónios SF1 do VMH. A ativação destes neurónios sugere que estão diretamente envolvidos nos efeitos antidiabéticos do medicamento.

A metformina é um medicamento seguro, acessível e de ação prolongada, conhecido por reduzir a glicose produzida pelo fígado e aumentar a eficiência da utilização da insulina, ajudando a controlar o diabetes tipo 2. Com esta nova descoberta, é possível que no futuro se desenvolvam tratamentos mais direcionados, que atuem especificamente nos neurónios identificados.

Os investigadores sublinham que ainda é necessário comprovar estes resultados em estudos com humanos, mas, se confirmado, este conhecimento poderá ser usado para potencializar os efeitos da metformina e até explorar novas aplicações, como retardar o envelhecimento cerebral e aumentar a expectativa de vida.

“Esta descoberta muda a forma como pensamos sobre a metformina”, afirma Makoto Fukuda, fisiopatologista do Baylor College. “Ela não atua apenas no fígado ou no intestino, mas também no cérebro. Verificámos que, embora o fígado e os intestinos necessitem de altas concentrações do medicamento para reagir, o cérebro responde a níveis muito mais baixos.”

O estudo foi publicado na revista Science Advances e representa um passo importante para compreender melhor os mecanismos da metformina e o seu potencial terapêutico futuro.

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