Saúde

Adeus às agulhas: Insulina agora pode ser aplicada na pele

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 16 minutos atrás em 20-11-2025

Um avanço na administração de insulina promete, no futuro, reduzir ou até eliminar a necessidade de injeções para pessoas com diabetes.

Pesquisadores da Universidade de Zhejiang, na China, demonstraram um tratamento tópico eficaz em ratos, miniporcos e amostras de pele humana cultivadas em laboratório, uma conquista antes considerada impossível devido ao tamanho e à natureza hidrofílica das moléculas de insulina, que impedem sua penetração nas camadas externas oleosas da pele.

“O polímero permeável à pele pode permitir a administração transdérmica não invasiva de insulina”, afirmam os cientistas, destacando que o método também pode facilitar a entrega de outras terapias à base de proteínas e peptídeos de forma mais amigável para o paciente.

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A administração de medicamentos pela pele apresenta diversas vantagens: é indolor, fácil de aplicar em casa e permite liberação controlada e contínua no organismo. No entanto, a pele funciona como uma barreira natural, protegendo o corpo de substâncias nocivas. O estrato córneo, camada mais externa da pele, é formado por células mortas e lipídios, que dificultam a passagem de moléculas grandes e hidrofílicas, como a insulina.

Para contornar esse desafio, os pesquisadores exploraram o gradiente de pH da pele: levemente ácido na superfície e mais neutro nas camadas profundas. Com base nesse conceito, criaram um polímero chamado poli[2-(N-óxido-N,N-dimetilamino)etil metacrilato] (OP), cujas propriedades mudam conforme o pH. Na superfície da pele, o OP possui carga positiva, permitindo aderência aos lipídios; ao atingir pH neutro nas camadas mais profundas, perde a carga e libera a insulina. A ligação entre o polímero e a insulina forma o conjugado OP-I, que transporta o hormônio através da pele de maneira eficaz.

Os testes mostraram resultados animadores: em modelos de pele humana e ratos diabéticos, o OP-I transportou a insulina de forma mais eficiente do que a insulina isolada ou combinada a outros polímeros tradicionais, como o PEG. Nos ratos, os níveis de glicose no sangue normalizaram-se em uma hora e permaneceram estáveis por 12 horas. Em miniporcos diabéticos, que têm fisiologia mais próxima à humana, os efeitos foram semelhantes.

Uma vez dentro do corpo, o OP-I se acumula em tecidos-chave para a regulação da glicose, como fígado, tecido adiposo e músculos esqueléticos, liberando a insulina e ativando seus receptores. O efeito é mais suave e prolongado do que o da insulina injetável, sem sinais de inflamação nos testes, sugerindo baixo risco de efeitos colaterais.

Os pesquisadores ressaltam que ainda são necessários estudos clínicos em humanos para confirmar a eficácia e a segurança do método. No entanto, os resultados apontam para um futuro em que as injeções frequentes de insulina podem se tornar obsoletas, e o sistema pode ser adaptado para a administração de outros medicamentos biológicos.

A pesquisa foi publicada na revista Nature e abre novas perspectivas para tratamentos transdérmicos de biomacromoléculas como peptídeos, proteínas e ácidos nucleicos.

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