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O Talasnal “começa” aqui: A história de Joaquim que comprou “às cegas” uma casa por 200 contos

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 horas atrás em 19-11-2025

O Talasnal, uma das mais emblemáticas Aldeias do Xisto da Serra da Lousã, ganhou nova vida graças à persistência de Joaquim Lourenço.

Hoje é proprietário da Taberna do Talasnal e responsável pelo projeto Montanhas de Amor, que inclui 9 casas de alojamento — 8 delas na própria aldeia. Mas a história que verdadeiramente marcou o início desta aventura começou com uma casa comprada por apenas 200 contos.

“Eu tinha 19 anos e queria ser proprietário. Trabalhava na vigilância da floresta, ganhava 200 contos por mês e decidi que queria gastar um mês de ordenado numa casa”, recorda Joaquim Lourenço. Nessa altura, só nas aldeias serranas encontrou preços que cabiam no sonho de um jovem trabalhador.

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Um dos proprietários locais apresentou-lhe a única casa que se encaixava no orçamento: “Ele disse-me ‘200 contos, só se for aquela ao pé do tanque’. Fomos lá ver… a porta nem abria com tanta tralha”, conta. Era um espaço exíguo, com apenas sete metros quadrados. “Se eu tivesse visto a casa, não sei se a comprava. Mas ainda bem que apostei”, admite, entre risos.

A escritura foi assinada sem grandes verificações — mais entusiasmo do que prudência. “Estava tão feliz que nem liguei. Tremia, era um miúdo a comprar uma casa.” Mais tarde, já sem a tralha que a ocultava, descobriu o tamanho reduzido e as limitações da construção. Mas aquela compra acabou por ser a semente de tudo o que viria a seguir.

Ao longo dos anos, Joaquim Lourenço foi recuperando casas, investindo no alojamento local e criando novos espaços. Em 2017 inaugurou a Taberna do Talasnal, primeiro apenas com “uns petiscos”, depois com cozinha completa e restaurante. “Havia necessidade de um serviço de restauração. Começaram a pedir comida e tive de arranjar respostas”, conta.

Hoje, chanfana, cabrito, bacalhau e especialidades como os bifes à Talasnal fazem a identidade gastronómica da casa. E Joaquim Lourenço não abdica de ligações ao território: sopa Tí Manel, homenagem ao último habitante da aldeia; cogumelos das bruxas, prato inspirado no mítico Terreiro das Bruxas; ou a tradicional tiburnada de bacalhau, prato serrano de aproveitamento.

Com a aproximação da quadra natalícia, o Talasnal transforma-se. “Este ano vai ser a melhor decoração de Natal de sempre. A Câmara apoiou e estamos a montar tudo. No fim de semana vêm cerca de 40 proprietários ajudar”, refere. O espírito comunitário renasce, assim como a magia da aldeia iluminada.

O Natal, garante, tem um encanto próprio na serra: “É muito acolhedor. Casas de xisto, lareira acesa, silêncio… é o verdadeiro Natal.” As casas de alojamento enchem-se, e Lourenço passa a noite a dar resposta aos hóspedes, antes de se juntar à família mais tarde.

Na praça central, a fogueira tradicional continua a ser ritual diário no inverno: “Fazemos sopa de castanhas, sopa labradora, cozido… gostamos de experimentar coisas na fogueira.”

A história da casa de 200 contos — pequena, escura e invisível sob a tralha — tornou-se, afinal, o ponto de partida para uma transformação maior: uma aldeia que voltou a ter vida, visitantes e mesa farta. Tudo porque um jovem de 19 anos decidiu que queria ser dono de algo seu.

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