Justiça

Confessa que tenta matar 2 vezes o filho bebé no Pediátrico em Coimbra: “Quis poupar ao sofrimento”

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 1 hora atrás em 18-11-2025

O Tribunal de Coimbra começou a julgar esta terça-feira, 18 de novembro, uma mulher de 20 anos que está acusada de tentar matar por duas vezes o filho de 5 meses, quando o bebé recebia tratamento no Hospital Pediátrico.

Os dois crimes de tentativa de homicídio qualificado de que é acusada a mãe terão ocorrido entre 31 de dezembro de 2024 e 2 de janeiro de 2025, quando o bebé estava internado no Hospital Pediátrico de Coimbra na sequência dos problemas de saúde que apresentava e após ter sido submetido a um procedimento para proteção das vias aéreas.

A sessão do julgamento sofreu uma interrupção depois de a arguida solicitar ao tribunal que as suas declarações decorressem à porta fechada. Segundo justificou, sentiu-se “inibida de prestar declarações” perante os jornalistas e restantes presentes na sala. O pedido foi aceite.

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No reatar da audiência, o juiz sublinhou que a mulher “confessou integralmente e sem reservas” os dois crimes, o que levou à dispensa das testemunhas.

De acordo com a acusação, a primeira tentativa ocorreu quando a arguida colocou algodão nos tubos do equipamento que monitorizava o bebé e que asseguravam a ventilação. A procuradora destacou que a mulher “demorou a arrepender-se” e que apenas mudou de comportamento quando o menino “ficou roxo” e acabou por observar os procedimentos clínicos que se seguiram.

O bebé permanece internado na unidade de cuidados intensivos.

A procuradora classificou a atitude da mãe como motivada “por egoísmo e não por misericórdia” e sustentou que esta demonstra “um desvalor da vida do próprio filho”.

Dois dias após o primeiro episódio, a arguida voltou a tentar matar o bebé, desta vez utilizando um material mais grosso — “papel de um livro de sopas de letras” — introduzido novamente nos tubos. As manobras de reanimação prolongaram-se por cerca de cinco minutos.

A procuradora frisou que esta segunda ação foi “pensada”, voltando a sublinhar a instabilidade emocional da arguida: “A mulher apresenta uma personalidade desequilibrada e instável.” Acrescentou que a mulher “não padece de défice cognitivo”, como tentou fazer crer.

A advogada de defesa reconheceu que se trata de um crime “grave”, afirmando que “não se pode ignorar a frieza e as circunstâncias” dos factos. Ainda assim, pediu ao tribunal que considere fatores que poderão atenuar a pena.

“Apenas para esclarecer que a senhora confessou integralmente e de forma livre todos os factos que vinham na acusação”, afirmou. Segundo a advogada, várias motivações terão contribuído para o crime, entre as quais “uma depressão não diagnosticada logo após o nascimento do filho, que se agravou e nunca chegou a ser tratada”.

A advogada referiu ainda que a progenitora acreditava que a criança “nunca viria a ser totalmente normal”, devido aos problemas de saúde de que padecia desde o nascimento. “A senhora motivou-se por isto”, disse. Entre eles, citou a inexistência de antecedentes criminais e o “receio” da mãe de que a criança “não fosse dentro dos parâmetros da normalidade”, devido aos problemas de saúde com que nasceu.  

Para a advogada, a arguida agiu numa tentativa “de poupança ao sofrimento”, acreditando que o bebé “não seria uma criança consciente e iria estar dependente de terceiros”.

A criança é portadora de uma doença genética que leva a perturbações no desenvolvimento intelectual e físico, infeções recorrentes das vias aéreas, anomalias cerebrais e do esqueleto e membros.

Nas alegações finais, a defesa reconheceu a gravidade e frieza do crime, mas insistiu que o tribunal ponderasse nestas “circunstâncias que podem atenuar a pena”.

“Poderá de alguma forma compreender-se o que se passou na cabeça desta mulher”, afirmou.

A leitura da sentença ficou marcada para a próxima terça-feira, 25 de novembro, às 14:00. A arguida irá assistir à decisão a partir do estabelecimento prisional.

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