O tráfico humano e crimes associados a recursos não renováveis são mais prevalentes em África do que no resto do mundo, afirmou à agência Lusa a analista responsável pela apresentação do relatório ‘Africa Organised Crime Index 2025’.
“[O primeiro] dos [crimes] que são únicos em África é o tráfico de seres humanos. À medida que conflitos e as instabilidades continuam no continente, o tráfico de seres humanos aumenta, ainda que com uma margem pequena, mas bastante elevado em termos de prevalência”, afirmou Rumbi Matamba na apresentação do relatório bienal, em Nairobi, no Quénia.
“Depois, os crimes relacionados com recursos não renováveis em África, por exemplo, a mineração de ouro não artesanal. Verificamos que, dentro da dinâmica criminal global, África serve geralmente como país de origem para recursos não renováveis”, referiu a analista, que acrescentou que “coisas como o ouro que têm origem no continente seguem para lugares como os Emirados Árabes Unidos e, a partir daí, seguem para outros destinos no mundo”.
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“Creio que estes dois crimes são os que mais se destacam em termos de diferenças em relação ao resto do mundo”, sublinhou Matamba.
De acordo com a analista, as taxas de cada crime organizado em África seguem as tendências globais. “Estamos a observar mudanças nos mercados de droga, particularmente no comércio de cocaína e no mercado de drogas sintéticas, que está a aumentar”, afirmou.
O tráfico de cocaína foi sobretudo o crime que mais aumentou desde 2019, ano em que o ‘Index’ começou a ser feito, com um crescimento de 1,29, seguido de facilitação de imigração ilegal (0,98), tráfico de drogas sintéticas (0,8), tráfico humano (0,75) e crimes com recursos não-renováveis (0,62).
Os crimes não violentos também aumentaram nos últimos 24 meses, “tanto a nível global como em África”, referiu a analista: “Estamos a ver um aumento dos crimes financeiros, como desvio ou uso indevido de fundos públicos, esquemas financeiros fraudulentos e evasão fiscal – tudo avaliado como criminalidade financeira”.
Os crimes financeiros foram os que ganharam um maior crescimento desde 2023, ano em que saiu a última edição do ‘Africa Organised Crime Index’.
Rumbi Matumba também mencionou que “os mercados de bens contrafeitos estão a crescer (…) em linha com as tendências globais”. Foi o segundo crime que mais aumentou nos últimos dois anos.
Por outro lado, a pontuação dos crimes cibernéticos dependentes de tecnologia, além de ter diminuido, “a pontuação de África não é tão elevada como a dos outros continentes – uma ligeira diferença em relação à dinâmica global que se observa nos relatórios mundiais”, acrescentou a analista.
O tráfico de canábis, de heroína, de armas e crimes relacionados com a flora – contrabando de plantas características da região – também diminuiram desde 2023, segundo o relatório africano.
O relatório apresentado hoje na conferência “Reforçar a resposta de África ao crime organizado transnacional” (ENACT), quantifica a prevalência de cada crime no continente, além do tipo de grupos criminosos e a políticas de resiliência ao grupo organizado.
O ENACT é desenvolvido pelo Instituto de Estudos de Segurança, em parceria com a Interpol e a Iniciativa Global Contra Crime Organizado Transnacional, do qual Rumbi Matamba faz parte.
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