Saúde

Tomar antibióticos “à sorte” está a sair caro…

Notícias de Coimbra | 3 horas atrás em 17-11-2025

Interromper o tratamento porque “já nos sentimos melhor”, tomar antibióticos para constipações, recorrer a medicação que ficou esquecida em casa ou aceitar comprimidos oferecidos por familiares e amigos.

Para muitos portugueses, estes comportamentos parecem inofensivos, mas estão a acelerar um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo: a resistência antimicrobiana. No Dia Europeu do Antibiótico, a ESSATLA, Escola Superior de Saúde Atlântica, alerta para cinco erros frequentes que continuam a comprometer a eficácia dos tratamentos e a favorecer o crescimento de bactérias resistentes.

De acordo com Luís Miguel Farias, coordenador da Licenciatura em Farmácia na ESSATLA, estes erros repetem-se de forma persistente na prática clínica. A interrupção precoce do tratamento, uso sem receita ou automedicação, a partilha de medicamentos, a utilização de antibióticos para infeções virais e a toma em doses ou durações incorretas são, segundo o especialista, fatores que fragilizam o tratamento e alimentam um ciclo de ineficácia crescente. “Estes comportamentos, que muitas vezes resultam de desinformação ou falsa sensação de segurança, têm impacto direto na resistência antimicrobiana e devem ser eliminados da prática quotidiana”, sublinha.

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O alerta surge num contexto em que Portugal continua acima da média europeia no consumo de antibióticos. Entre 2019 e 2023, o país registou um aumento de 2%, o dobro do aumento médio na União Europeia, de acordo com dados do Infarmed e da DGS. Paralelamente, embora algumas resistências tenham diminuído nos últimos anos, outras continuam a crescer: casos como Klebsiella pneumoniae (bactéria que pode causar complicações como pneumonia, endocardite e meningite) resistente a carbapenémicos (grupo de antibióticos de largo espectro) evidenciam um cenário que exige vigilância constante e políticas de uso racional cada vez mais conscientes.

A automedicação, embora não massiva, permanece documentada em estudos nacionais que apontam para prevalências entre 4% e 19% na população adulta, consoante a região analisada. Também a prescrição inadequada, sobretudo no ambulatório e em alguns contextos pediátricos, continua a ser um problema reconhecido por entidades reguladoras e sociedades científicas, associando-se frequentemente ao tratamento de infeções virais, à escolha inadequada do antibiótico ou à duração ou dosagem incorretas.

Para o coordenador, os profissionais de farmácia têm um papel essencial na sensibilização e educação da população, atuando como primeira linha junto da comunidade, promovendo uma maior literacia em saúde. “A intervenção dos profissionais de farmácia é determinante. A formação técnica dos profissionais e o aconselhamento informado e personalizado são medidas que reduzem significativamente o risco de utilização indevida”, defende Luís Miguel Farias.

Ao assinalar o Dia Europeu do Antibiótico, a ESSATLA reforça a necessidade de promover a literacia em saúde e de práticas de prescrição responsáveis, lembrando que a resistência antimicrobiana permanece como uma das maiores ameaças globais identificadas pela Organização Mundial da Saúde.

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