Um novo estudo realizado por cientistas da Escola de Medicina da Universidade da Virgínia e da Virginia Tech revelou um possível mecanismo que pode explicar a perda gradual da memória social em pessoas com Alzheimer – a dificuldade em reconhecer familiares e amigos.
Nos estágios iniciais da doença, os pacientes experienciam declínio da memória de curto prazo, alterações de humor, desorientação e dificuldades de concentração. Porém, a perda de memória social é considerada particularmente cruel, afetando diretamente as relações pessoais.
A investigação focou-se em estruturas especializadas chamadas redes perineuronais, que formam uma espécie de malha ao redor dos neurónios em certas regiões do cérebro. Estas redes regulam a plasticidade neural, protegem contra o stress oxidativo e estabilizam os contactos sinápticos, essenciais para o armazenamento de memórias.
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Em experiências com ratos, os investigadores observaram que, quando as redes perineuronais se deterioravam na região CA2 do hipocampo – área essencial para a memória social – os animais perdiam a capacidade de reconhecer outros ratos, embora continuassem a formar memórias sobre objetos no ambiente. Estes resultados refletem experiências comuns em pacientes com Alzheimer, em que a memória social se deteriora antes da memória objetiva.
A equipa testou ainda se seria possível prevenir a perda de memória social utilizando inibidores de metaloproteinases da matriz (MMPs), enzimas que podem degradar proteínas da matriz extracelular. Os ratos tratados mantiveram melhor a integridade das suas redes perineuronais e conservaram funções de memória social, mesmo com Alzheimer.
“A nossa pesquisa demonstra que proteger estas estruturas cerebrais pode preservar a memória social em modelos de Alzheimer”, afirma Lata Chaunsali, autora principal do estudo. O neurocientista Harald Sontheimer acrescenta: “É um alvo completamente novo e já existem candidatos a medicamentos que podem ser explorados.”
Com mais de 55 milhões de pessoas a viver com demência – sendo Alzheimer responsável por mais de 60% dos casos – estes resultados oferecem esperança para futuras terapias que não só retardem, como potencialmente previnam a perda de memórias sociais.
Os investigadores alertam, no entanto, que os resultados ainda são preliminares e que são necessárias mais pesquisas para avaliar segurança e eficácia em humanos.
O estudo foi publicado na revista Alzheimer’s & Dementia: The Journal of the Alzheimer’s Association.
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