Um fragmento de tecido ensanguentado, recolhido no bunker de Adolf Hitler em 1945, tornou-se agora numa “cápsula do tempo” biológica que revela detalhes surpreendentes sobre o ditador, oitenta anos depois.
O material foi sequenciado por geneticistas, incluindo Turi King, conhecida por confirmar a identidade dos restos de Ricardo III, e faz parte do documentário do Channel 4 “O DNA de Hitler: O Projeto de um Ditador”, que estreia a 15 de novembro.
A análise genética revelou que Hitler apresentava uma deleção no gene PROK2, associada à Síndrome de Kallmann, uma condição rara que afeta a puberdade e o desenvolvimento sexual. Esta descoberta coincide com registos médicos de 1923 que indicavam um testículo não descido. A síndrome pode provocar níveis baixos de testosterona e outros traços físicos, contrariando a visão de “pureza” que Hitler defendia com a sua ideologia nazi.
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Quanto à ancestralidade, o estudo acabou com rumores antigos sobre supostos antepassados judeus, confirmando que o cromossoma Y do ditador corresponde a um parente conhecido de origem austro-alemã.
O documentário também explora a psicologia de Hitler através de escores de risco poligénico, estimando predisposições para condições como autismo, esquizofrenia e transtorno bipolar. Especialistas alertam, contudo, que estas análises não permitem diagnósticos individuais e que ligar estas condições ao comportamento do ditador pode alimentar mitos perigosos.
Os investigadores sublinham que fatores históricos, como abuso na infância, a Primeira Guerra Mundial e a instabilidade política da Europa do início do século XX, foram determinantes para moldar o responsável pelo Holocausto. A genética, reforçam, ajuda a compreender a história, mas não a justifica.
O documentário coloca também questões éticas profundas sobre o estudo de restos biológicos de figuras históricas, ponderando até que ponto devemos analisar geneticamente indivíduos como Hitler, cujo impacto na humanidade foi devastador.
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