Durante anos acreditou-se que libertar a raiva — desabafar, gritar, bater em almofadas ou mesmo “quebrar coisas” — ajudava a aliviar o stress. Mas afinal, tudo indica que essa ideia é um mito. Uma revisão científica publicada em 2024 conclui que “extravasar” a raiva pode ser não só ineficaz, como até contraproducente.
O estudo, conduzido por investigadores da Universidade Estadual de Ohio e publicado na revista Clinical Psychology Review, analisou 154 estudos com mais de 10 mil participantes de várias idades e culturas. O resultado foi claro: desabafar não acalma — pode aumentar a raiva.
“É importante desmistificar a ideia de que, se estamos com raiva, devemos extravasar”, afirmou Brad Bushman, autor principal do estudo. “Não existe qualquer evidência científica que apoie a chamada teoria da catarse.”
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A equipa analisou desde atividades físicas intensas — como boxe, corrida ou ciclismo — até práticas de relaxamento, como meditação, ioga e respiração profunda. A conclusão? As atividades que reduzem a excitação fisiológica são as mais eficazes para controlar a raiva.
A coautora do estudo, Sophie Kjærvik, acrescenta que o segredo está em acalmar o corpo para acalmar a mente. “A nossa pesquisa mostra que reduzir a excitação fisiológica é fundamental. Mesmo atividades aparentemente calmas, como relaxamento muscular progressivo ou pausas de reflexão, ajudam mais do que correr para descarregar energia.”
A revisão também lança dúvidas sobre a moda das chamadas “salas da raiva”, onde as pessoas pagam para destruir objetos. Segundo os investigadores, estas práticas podem dar uma falsa sensação de alívio, mas na realidade reforçam a agressividade.
“Atividades como a corrida podem ser ótimas para o coração, mas não são a melhor forma de acalmar a raiva”, alerta Bushman. “É uma verdadeira batalha, porque as pessoas sentem que desabafar faz bem — mas isso só alimenta o problema.”
Os investigadores recomendam estratégias simples para neutralizar a raiva, como contar até 10, fazer uma pausa, praticar respiração profunda ou mindfulness. Mesmo sem terapia formal, pequenos gestos de relaxamento podem fazer toda a diferença.
“Não é preciso marcar uma sessão de terapia”, diz Kjærvik. “Existem aplicações e vídeos gratuitos que ensinam a relaxar e podem ser eficazes.”
Em resumo, a ciência confirma: gritar, bater ou descarregar não cura a raiva — apenas a faz crescer. O verdadeiro antídoto está no silêncio, na respiração e na calma.
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