Pode parecer paradoxal, mas os comprimidos que muitas pessoas tomam para aliviar dores de cabeça podem, na realidade, estar a perpetuá-las. A cefaleia por uso excessivo de medicamentos é um fenómeno médico já bem documentado e, embora possa ser frustrante, costuma ser reversível quando corretamente identificado.
Mais de 10 milhões de pessoas no Reino Unido sofrem de dores de cabeça regularmente, o que corresponde a cerca de uma em cada 25 consultas num clínico geral. A maioria destas dores de cabeça é benigna e não indica um problema grave. Apesar do receio de muitos de ter um tumor cerebral, menos de 1% das pessoas com dores de cabeça apresenta esta condição.
O diagnóstico e tratamento das cefaleias exige uma avaliação cuidada. Consultas detalhadas, exames físicos e, por vezes, encaminhamentos para especialistas são fundamentais para determinar se a dor indica uma condição grave ou se é benigna, embora mesmo estas últimas possam afectar significativamente a vida diária.
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O tratamento depende do tipo de cefaleia. Enxaquecas podem responder a medicamentos antieméticos ou betabloqueadores, enquanto dores de cabeça associadas a ansiedade ou depressão podem melhorar com acompanhamento psicológico. Mudanças no estilo de vida, incluindo dieta e prática de exercício físico, também podem ajudar a controlar dores de cabeça crónicas.
No entanto, um padrão frequente observado pelos médicos é a dor de cabeça recorrente que se inicia ou se agrava após o uso regular de analgésicos por três meses ou mais. Este fenómeno, conhecido como cefaleia por uso excessivo de medicamentos, afeta cerca de 1 a 2% da população, sendo três a quatro vezes mais comum em mulheres.
O culpado nem sempre são apenas os opiáceos, como a codeína, que vêm acompanhados de efeitos secundários variados, incluindo dores de cabeça. Analgésicos comuns, como paracetamol e anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) — como o ibuprofeno — também podem desencadear o problema, especialmente quando usados com muita frequência ou combinados com opiáceos, como no caso do co-codamol, pode ler-se na Science Alert.
Mesmo quando tomados dentro dos limites recomendados, o paracetamol, geralmente seguro e eficaz, pode causar dores de cabeça crónicas em alguns indivíduos se usado de forma contínua. Triptanos, utilizados para tratar crises de enxaqueca, também podem contribuir para o fenómeno.
O termo “uso excessivo” não implica necessariamente a ultrapassagem das doses diárias recomendadas. Cefaleias podem surgir com a toma de paracetamol ou AINEs por 15 dias ou mais por mês, e com opiáceos mesmo com um uso mais esporádico, às vezes após apenas dez dias por mês.
Tratar estas dores de cabeça requer cuidado. Os pacientes frequentemente não percebem que a medicação é a causa e podem recear que a dor aumente durante a suspensão gradual dos analgésicos, feita sempre sob supervisão médica. Trabalhar em estreita colaboração com um profissional de saúde é essencial para confirmar o diagnóstico, monitorizar a evolução e planear o tratamento.
Quem sofre de dores de cabeça mais de 15 dias por mês deve consultar um médico. Manter um diário de sintomas ajuda no diagnóstico e na identificação das causas subjacentes. Só quando alguns pacientes deixam de tomar certos medicamentos é que percebem a verdade incómoda: a dor era, muitas vezes, alimentada pelas próprias drogas das quais dependiam.
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