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Arganil, Coimbra, Condeixa, Góis e Lousã recebem festival que fala de genocídios

Notícias de Coimbra com Lusa | 3 horas atrás em 07-11-2025

Imagem: DR

A escritora Scholastique Mukasonga, sobrevivente dos massacres no Ruanda na década de 1990, vai participar em 2026 no Festival Literário Internacional do Interior (FLII) – Palavras de Fogo, que tem como tema os genocídios, anunciou a organização.

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Atualmente a viver em França, Scholastique Mukasonga tem escrito e corrido o mundo a falar do genocídio dos tutsis pelos hutus. No ponto mais alto da escalada de violência, em 1994, cerca de um milhão de pessoas terão sido assassinadas, 37 das quais familiares da escritora franco-ruandesa.

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A guerra na Faixa de Gaza está na origem do tema escolhido para o próximo FLII – Palavras de Fogo, “Genocídios, o interior negro da humanidade”, que envolve autarquias e instituições dos concelhos de Arganil, Coimbra, Condeixa-a-Nova, Góis e Lousã, no distrito de Coimbra, e de Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.

“Não fazer nada sobre o genocídio que esteve e está a ser perpetrado em Gaza, para nós era, digamos, uma falha muito, muito grande”, explicou à agência Lusa a fundadora e coordenadora do festival, Ana Filomena Amaral.

Além disso, notou, num ano novamente marcado pela tragédia dos fogos florestais no Centro – o FLII surgiu em homenagem às vítimas dos incêndios florestais de 2017 -, a ideia de “interior negro” surge, também, “como uma espécie de metáfora do que aconteceu aqui neste verão”.

“Surgiu-nos a ideia de que o genocídio é capaz de ser o interior mais negro da humanidade”, sublinhou.

Para falar do tema, a organização convidou Scholastique Mukasonga.

“É do Ruanda e é realmente uma das grandes sobreviventes [do genocídio de 1994]. Podemos, se calhar, falar dela como falamos de sobreviventes do Holocausto. É uma das únicas sobreviventes a um genocídio que foi um massacre. Uma página absolutamente negra da nossa história dos anos 90”.

A partir do testemunho da escritora franco-ruandesa serão recordados no festival outros genocídios.

“O que nos distingue como festival literário é realmente aquilo que podemos fazer em relação às calamidades, às atrocidades do momento. E, neste momento, a grande atrocidade é Gaza”, reforçou Ana Filomena Amaral.

Numa 9.ª edição assumida como de “mudança de paradigma”, o FLII – Palavras de Fogo vai ser antecipado para conseguir envolver as escolas dos territórios do Centro onde decorre.

“É uma nova fase deste festival e pensámos em abrir esta nova fase com um tema candente e incandescente”, destacou a coordenadora.

Garantida a cabeça de cartaz Scholastique Mukasonga, o FLII – Palavras de Fogo está ainda em fase de construção da programação que acontecerá entre 07 e 10 de maio de 2026, em concelhos da região afetados pelos fogos.

O objetivo do festival organizado pela Arte-Via Cooperativa, sediada na Lousã, mantém-se.

“Levar os livros e os escritores aos sítios mais inusitados e imprevisíveis, como fábricas, campos, praias, igrejas, mercados, romarias, locais onde as pessoas trabalham e convivem”.

Em 2026, o FLII – Palavras de Fogo vai ainda homenagear Luiz Pacheco, por ocasião do centenário do escritor.

“Luiz Pacheco é um pouco ignorado, porque é um escritor à margem daquilo que são os escritores do sistema, que recebem os prémios todos e mais alguns. Ele tem textos muito ligados ao interior e pensámos que vem como ‘sopa no mel’”, concluiu Ana Filomena Amaral.

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