Portugal
1 de novembro de 1755: O dia em que a terra, o fogo e o mar se uniram contra Portugal
Imagem: DR
No dia 1 de novembro de 1755, Portugal foi atingido por uma das maiores catástrofes naturais da sua história. Um sismo de magnitude elevada (estimada entre 8,7 e 9,0), com epicentro no Oceano Atlântico, gerou um maremoto e incêndios devastadores. A capital, Lisboa, foi a mais atingida pela tripla calamidade, seguindo-se cidades costeiras do centro e do sul do país, como Lagos, no Algarve.
Sendo dia de Todos os Santos, dia que o povo acendia velas em homenagem aos que já partiram, e uma manhã fria convidativa ao uso da lareira, o abalo provocou a queda das velas e brasas sobre os escombros, originando incêndios que se espalharam rapidamente pela cidade.
O terror iniciou-se por volta das 9h30 da manhã, hora que a população se encontrava reunida nas igrejas para celebrar a missa do dia santo. Segundo testemunhos, o ar tornou-se subitamente “calmo e pesado”, seguido de um “profundo e pavoroso rugido” vindo do subsolo, que muitos compararam a “tiros de canhão”.
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Milhares de pessoas foram vítimas das catástrofes e da dificuldade de encontrar refúgio. Segundo testemunhos, “as ruas, por onde poucos minutos antes se apinhavam as pessoas, converteram-se em montes de pedras e madeira”. Este cenário de escombros foi criticamente agravado pela malha urbana de Lisboa, caracterizada por ruelas estreitas e densamente construídas, que dificultavam não só o escape, mas também qualquer tentativa de socorro ou organização.
Muitos procuraram abrigo junto ao rio Tejo, por ser um espaço amplo e livre de edifícios, sem imaginar que essa escolha seria fatal. Cerca de 40 minutos após o sismo, surge uma onda gigante que encurralou a população entre as águas e as ruínas em chamas, resultando de novo num pânico: “Quando vimos o mar afastar-se, todos pensámos que era um milagre… Mas depois, o mar voltou-se contra nós com uma fúria terrível, vindo por cima de muitos edifícios e afogando todos os que tinham procurado a salvação na beira-mar.”
No meio do pânico e dos “gritos e desespero”, a desordem social eclodiu. Enquanto a população socorria os feridos, houve quem aproveitasse para saquear os bens expostos nos escombros.
Perante o caos, o Rei D. José I, que se encontrava fora da cidade de Lisboa, delegou plenos poderes a Sebastião José de Carvalho e Melo (futuro Marquês de Pombal). A sua intervenção foi imediata e pragmática: “Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos.” Ordenou-se a mobilização das tropas para patrulhar, iniciou-se o plano sanitário de remoção urgente dos corpos e proibiu-se o aumento dos preços dos bens de primeira necessidade e a reconstrução das propriedades que ruíram.
O desastre foi transformado numa oportunidade de modernização. O plano de reconstrução, liderado pelo Engenheiro-Mor Manuel da Maia e desenhado por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, impôs ruas largas e perpendiculares. Os novos edifícios foram dotados da inovadora Gaiola Pombalina (estrutura anti-sísmica) e separados por Paredes Corta-Fogo em alvenaria, projetadas para prevenir a propagação das chamas. Desta forma nasceu assim o que hoje se conhece como a Baixa Pombalina.
Curiosamente, enquanto Lisboa renascia, o rei D. José I, claustrofóbico e ausente do terramoto, recusava viver em prédios de pedra, instalando a corte na leve Real Barraca da Ajuda, longe do medo das paredes sólidas.
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