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Investigadores de Coimbra criam treino cognitivo inovador para sobreviventes de AVC

Notícias de Coimbra com Lusa | 6 horas atrás em 28-10-2025

Investigadores coliderados pela Universidade de Coimbra (UC) criaram uma intervenção de treino cognitivo, destinada a sobreviventes de Acidente Vascular Cerebral (AVC), que resultou em melhorias na qualidade de vida destes utentes.

A nova metodologia, que utiliza tecnologias de informação e comunicação, e que tem por base a realização de atividades de vida diária, apresentou resultados promissores no estudo-piloto, revelou hoje a UC, num comunicado enviado à agência Lusa.

A expectativa é a de que a iniciativa, intitulada NeuroAIreh@b, “possa vir a contribuir para reduzir assimetrias no acesso a programas de treino cognitivo personalizado, incrementando, assim, a intensidade e a frequência do acompanhamento de pessoas que sobreviveram a um AVC”.

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O programa foi desenvolvido por investigadores do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC (FPCEUC), do Nova Laboratory for Computer Science and Informatics (NOVA LINCS) e do NeuroRehabLab da Universidade da Madeira.

A primeira autora do estudo, Joana Câmara, citada no comunicado, explicou que “o programa é personalizado de acordo com o perfil neuropsicológico dos sobreviventes, a partir de uma avaliação neuropsicológica compreensiva que serve para definir as exigências do treino cognitivo”.

Na atividade, os participantes desempenham diferentes tarefas de treino cognitivo através de um ‘tablet’, como deslocar-se de automóvel até ao supermercado, ir às compras, selecionar os produtos necessários para confecionar uma determinada receita e efetuar o pagamento.

“À medida que os sobreviventes realizam as sessões, a dificuldade do treino cognitivo é ajustada em função do seu desempenho através de algoritmos de Inteligência Artificial”, disse a também investigadora do CINEICC e do NOVA LINCS.

A experiência é “verdadeiramente interativa”, acrescentou, “com sistemas de pistas, ‘feedback’ auditivo e visual, e um sistema de aprendizagem sem erro automatizado para apoiar no desempenho das tarefas, bem como elementos de gamificação, como medalhas e pontos, para incrementar a motivação e envolvimento no processo terapêutico”.

Para estudar a viabilidade do programa, foram recrutados 30 participantes que sofreram um AVC e apresentam sequelas cognitivas crónicas, tendo sido divididos em três grupos.

Dez participaram no NeuroAIreh@b, utilizando um ‘tablet’; outra dezena realizou o já existente Programa Adaptável para Reabilitação Personalizada do Acidente Vascular Cerebral, com recurso a papel e lápis; e os restantes dez participantes que não tiveram disponibilidade para cumprir o protocolo de intervenção (que consistiu em 12 sessões de treino cognitivo de 30 minutos, realizadas duas vezes por semana) foram também acompanhados.

Joana Câmara revelou que o NeuroAIreh@b “foi o único a contribuir para a generalização dos ganhos cognitivos obtidos durante a intervenção para a vida real dos sobreviventes de AVC”.

Em termos práticos, houve melhorias na qualidade de vida dos doentes e maior capacidade para realizar atividades diárias.

Já o grupo de sobreviventes que não realizou qualquer intervenção “piorou significativamente em vários domínios cognitivos, o que teve um impacto negativo” na capacidade funcional destes utentes.

De acordo com a neuropsicóloga, programas como o NeuroAIreh@b podem ajudar a prevenir trajetórias de declínio cognitivo patológicas, uma vez que os sobreviventes de AVC apresentam um risco acrescido, comparativamente à população em geral, de poder vir a desenvolver demência vascular na idade avançada.

“O AVC representa a principal causa de mortalidade e de incapacidade a longo prazo em Portugal”, relembrou.

A próxima etapa é investigar a utilização do projeto noutras instituições de saúde portuguesas, para alargar a dimensão da amostra e “verificar se os dados preliminares encorajadores obtidos são corroborados”.

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