Economia

Poderá não haver bacalhau nas mesas portuguesas para o Natal

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 horas atrás em 27-10-2025

Imagem: depositphotos.com

O bacalhau, símbolo da gastronomia portuguesa e presença obrigatória nas mesas de Natal, pode tornar-se um luxo este ano.

As sanções económicas da União Europeia à Rússia e a redução das quotas de pesca estão a provocar uma crise sem precedentes no setor, ameaçando o abastecimento nacional e centenas de postos de trabalho na indústria bacalhoeira.

Embora se diga que o bacalhau que chega a Portugal vem da Noruega, a Rússia continua a ser a principal origem mundial deste peixe, fornecendo historicamente grande parte da matéria-prima usada pela indústria portuguesa.

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Desde janeiro de 2024, novas tarifas de 12% sobre o bacalhau russo congelado agravaram os custos de importação. O golpe mais duro chegou em maio, com o 17.º pacote de sanções da UE, que colocou na lista negra duas das maiores empresas russas do setor: Norebo JSC e Murman Sea Food. A primeira era responsável por cerca de 60% do bacalhau exportado para Portugal.

Segundo Jorge Camarneiro, vice-presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME), “cerca de 90% de todo o bacalhau que Portugal importava para a indústria de transformação era proveniente da Rússia”, pode ler-se no ZAP.

A dependência remonta aos anos 90, quando a moratória canadiana à pesca comercial em Terra Nova obrigou Portugal a procurar novos fornecedores. Além disso, a frota russa é tecnicamente superior, explica Camarneiro: “Os russos pescam, limpam e congelam a bordo — ninguém mais tem essa capacidade.”

Com as sanções, Portugal ficou praticamente dependente da Noruega, que, não sendo membro da UE, mantém relações comerciais com a Rússia. Os industriais noruegueses compram o bacalhau russo, processam-no e revendem à Europa a preços muito mais elevados.

O impacto sente-se no bolso dos consumidores: em três anos, o preço do bacalhau subiu mais de 50%. De acordo com a DECO PROteste, 50 euros já só permitem comprar cerca de três quilos. “O bacalhau está a transformar-se no ‘bife da vazia’ dos peixes — um produto premium, inacessível à maioria das famílias”, lamenta Camarneiro.

A CPPME apelou recentemente ao Governo português para que crie um regime de exceção que permita continuar a importar bacalhau russo, argumentando que “se há exceções para o gás e o petróleo, também deveria haver para o bacalhau”.

Com o Natal a aproximar-se, os portugueses podem ter de ajustar o paladar à nova realidade: postas mais pequenas ou badanas em vez de lombos tradicionais. A iguaria que há séculos é “o fiel amigo” dos portugueses pode, neste Natal, ser um luxo reservado a poucos.

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