Saúde

Este tipo de vacina contra Covid-19 ajuda a combater doença fatal

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 7 horas atrás em 23-10-2025

As vacinas baseadas em mRNA contra a COVID-19, responsáveis por salvar cerca de 2,5 milhões de vidas em todo o mundo durante a pandemia, podem também desempenhar um papel importante no combate ao cancro.

A conclusão surpreendente resulta de um novo estudo publicado na prestigiada revista Nature por uma equipa liderada pelo oncologista pediátrico Elias Sayour.

O grupo de investigação, que em 2016 desenvolvia vacinas de mRNA para doentes com tumores cerebrais, descobriu que este tipo de tecnologia é capaz de treinar o sistema imunitário para eliminar células tumorais — mesmo quando o mRNA utilizado não está diretamente relacionado com o cancro.

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Com base nesta observação, os investigadores levantaram a hipótese de que as vacinas de mRNA concebidas para combater o vírus SARS-CoV-2, responsável pela COVID-19, poderiam também ter efeitos antitumorais.

A equipa analisou dados de mais de 1.000 doentes com melanoma em estado avançado e cancro do pulmão tratados com imunoterapia — concretamente com inibidores de pontos de controlo imunológico, uma abordagem que ensina o sistema imunitário a reconhecer e destruir as células cancerígenas.

Os resultados foram notáveis: os doentes que receberam a vacina de mRNA contra a COVID-19 da Pfizer ou da Moderna até 100 dias após o início da imunoterapia tinham mais do que o dobro da probabilidade de estarem vivos ao fim de três anos, em comparação com aqueles que não foram vacinados.

Mesmo os doentes com tumores que normalmente não respondem bem à imunoterapia registaram melhorias significativas, com um aumento quase cinco vezes na taxa de sobrevivência global aos três anos. Esta associação manteve-se forte mesmo depois de ajustados fatores como a gravidade da doença ou outras condições de saúde.

Para compreender como ocorre este efeito, os cientistas recorreram a modelos animais. Descobriram que as vacinas de mRNA contra a COVID-19 funcionam como um “alarme” que ativa o sistema imunitário, ajudando-o a reconhecer e destruir as células tumorais. Quando combinadas com os inibidores de pontos de controlo, as vacinas potenciam a resposta imunitária e permitem que o organismo combata o cancro de forma mais eficaz, segundo a Science Alert.

A imunoterapia revolucionou o tratamento oncológico na última década, curando doentes que antes eram considerados incuráveis. No entanto, continua a ser ineficaz em tumores chamados “frios”, que conseguem escapar à deteção imunitária.

Segundo os autores do estudo, as vacinas de mRNA podem fornecer o estímulo necessário para transformar estes tumores “frios” em “quentes”, tornando-os mais suscetíveis à imunoterapia.

A equipa está agora a preparar um ensaio clínico nacional em doentes com cancro do pulmão para testar esta estratégia. Os participantes que receberem imunoterapia serão aleatoriamente designados para tomar ou não uma vacina de mRNA contra a COVID-19 durante o tratamento.

Este ensaio ajudará a determinar se as vacinas de mRNA contra a COVID-19 devem ser integradas como parte do tratamento padrão para doentes que recebem inibidores de pontos de controlo imunológico.

“Esperamos que esta abordagem beneficie muitos doentes atualmente sem opções de tratamento eficazes”, afirmam os investigadores.

O estudo mostra como uma ferramenta desenvolvida em plena pandemia pode transformar-se numa nova arma contra o cancro, oferecendo uma esperança adicional a milhões de pessoas. Ao reaproveitar uma vacina já conhecida, os cientistas acreditam estar a abrir caminho para expandir os benefícios vitais da imunoterapia a doentes oncológicos que até agora ficavam para trás.

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