Portugal

4 segundos de coragem! Guarda-freio lutou até ao fim no elevador da Glória

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 dias atrás em 22-10-2025

Imagem: DR

O guarda-freio André Marques, de 45 anos, tentou tudo o que estava ao seu alcance para travar o elevador da Glória, em Lisboa, segundos antes do embate fatal que provocou 16 mortos, incluindo o próprio e 15 passageiros.

A reconstrução dos últimos 23 segundos da viagem consta agora do relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), que descreve com precisão ao segundo o que se passou na tarde de 4.ª feira, 3 de setembro, relata o Correio da Manhã.

O relatório revela que a viagem da cabina n.º 1 teve início às 18:03 minutos e 10 segundos. Três segundos depois, o cabo de ligação rompeu, fazendo com que o veículo, no topo da íngreme Calçada da Glória, iniciasse uma descida descontrolada a mais de 40 km/h.

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De acordo com o GPIAAF, menos de um segundo após a rutura, André Marques desligou de imediato o comando de tração e acionou o travão pneumático ao máximo. Contudo, essa ação revelou-se ineficaz, pois a quebra do cabo cortou automaticamente a energia elétrica que alimentava o sistema de frenagem de emergência.

Sem resposta do veículo, três segundos depois, o guarda-freio agarrou o volante do freio manual, girando-o 12 voltas consecutivas e mantendo pressão descendente numa tentativa desesperada de travar o elevador. Apesar do esforço, a velocidade continuou a aumentar devido ao declive e à falha dos sistemas principais.

Cerca de 180 metros após o início da descida, ao entrar numa curva apertada à direita, o elevador descarrilou. Atingiu primeiro a parede de um edifício, destruindo parcialmente a estrutura de madeira, e depois colidiu violentamente com dois postes metálicos, um de iluminação pública e outro da rede elétrica do ascensor. O movimento terminou segundos depois contra a esquina de outro prédio.

A imobilização total deu-se 23 segundos após o arranque inicial.

O relatório do GPIAAF confirma que André Marques e o guarda-freio da cabina n.º 2 estavam devidamente habilitados e experientes nas suas funções. No próprio dia do acidente, um técnico de manutenção contratado pela operadora Carris teria inspecionado as cabinas e conversado com os dois trabalhadores.

A investigação sublinha que a definição de regras de supervisão, fiscalização e manutenção de ascensores ou elétricos é da responsabilidade das empresas operadoras, cabendo às autoridades verificar o cumprimento das normas de segurança.

O relatório é preliminar e destina-se a identificar causas técnicas e falhas de segurança, não responsabilidades criminais. A análise final do GPIAAF e as conclusões sobre as causas exatas da rutura do cabo serão divulgadas numa fase posterior da investigação

A morte de André Marques, que tentou travar até ao último instante, e das 15 vítimas que seguiam no veículo, representa o acidente mais grave da história recente dos transportes urbanos em Lisboa. A tragédia da Calçada da Glória permanece gravada na memória coletiva da cidade — e a luta de quatro segundos do guarda-freio, símbolo de coragem e dever até ao fim.

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