A origem da Romaria à Senhora do Pranto, uma das mais antigas manifestações de fé popular da região, remonta a um episódio dramático que marcou profundamente o povo de Lamas: uma devastadora praga de gafanhotos.
Há mais de cem anos, as colheitas da aldeia foram assoladas por enxames de insetos que destruíam tudo por onde passavam. Desesperados perante a fome iminente e sem recursos para travar o flagelo, os habitantes voltaram-se para a fé. Prometeram à Senhora do Pranto, em Dornes (Ferreira do Zêzere), que se os livrasse daquela praga, fariam todos os anos uma romaria em sua honra.
O milagre aconteceu. Pouco tempo depois, os gafanhotos desapareceram, e o povo de Lamas cumpriu a promessa. Desde então, a romaria realiza-se ininterruptamente há mais de um século, passando de geração em geração como símbolo de devoção, gratidão e resistência.
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A tradição começa com um peditório pelos Santos, onde uma bandeira simbólica percorre as casas recolhendo donativos em dinheiro ou milho. Na Pascoela, realiza-se a festa, e na sexta-feira seguinte, os romeiros partem a pé de Lamas rumo a Dornes, num percurso de fé que se estende por todo o dia, apenas interrompido para as refeições.
A bandeira é armada em Lamas, desarmada em Pousafoles e novamente armada à chegada a Dornes, onde deve entrar na igreja antes das 19:00. Após a permanência no santuário, regressa no domingo, num trajeto marcado por sinais e rituais: o foguete lançado no alto de Podentes anuncia a chegada, os sinos tocam em Pousafoles, e flores são lançadas das janelas à passagem da bandeira.
A chegada a Lamas é celebrada com emoção. Na “Estação”, o ramo velho é trocado por um novo, simbolizando a continuidade da promessa. A bandeira segue então para a igreja, onde permanece até ao ano seguinte.
Mais do que uma peregrinação, a Romaria à Senhora do Pranto é uma memória viva de um milagre, o dia em que a fé de um povo venceu a destruição trazida por uma praga de gafanhotos.
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