Saúde

Unhas dos pés podem revelar risco de doença fatal

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 6 horas atrás em 17-10-2025

Imagem: depositphotos.com

Quando Emi Bossio começou a tossir, aos 47 anos, não imaginava que pudesse ter cancro de pulmão. Advogada de Calgary, nunca foi fumadora, e considerava-se imune à doença. O diagnóstico, contudo, veio e mudou a sua vida. “Foi superchocante. Um momento catastrófico. Não há palavras para descrever”, contou.

Bossio teve de abandonar o escritório de advocacia para se concentrar no tratamento e começou a falar publicamente sobre como o cancro do pulmão pode afetar até mesmo pessoas que nunca fumaram. A sua história levou-a a Aaron Goodarzi, bioquímico da Universidade de Calgary que estuda um dos agentes ambientais mais negligenciados: o radão.

O radão é um gás radioativo, incolor e inodoro, que se infiltra do solo à medida que o urânio se decompõe nas rochas. No exterior, dispersa-se sem perigo; no interior de edifícios, especialmente em porões ou casas fechadas, pode acumular-se, representando a segunda principal causa de cancro de pulmão, depois do tabagismo.

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Segundo a Organização Mundial da Saúde, a exposição ao radão é responsável por 3% a 14% dos casos de cancro de pulmão a nível global. Contudo, ao contrário do tabaco, não deixa vestígios visíveis e a maioria das pessoas desconhece a exposição.

Goodarzi e a sua equipa descobriram que as unhas dos pés podem armazenar informações de longo prazo sobre a exposição a substâncias radioativas, como o radão. Quando inalado, o radão transforma-se em chumbo-210, que é incorporado em tecidos de eliminação lenta, incluindo unhas, pele e cabelo.

Num estudo piloto publicado na Environment International, os investigadores analisaram recortes de unhas de voluntários que viviam em casas com níveis conhecidos de radão. Utilizando técnicas de espectrometria de massas altamente sensíveis, conseguiram quantificar o chumbo radioativo presente.

Os resultados foram surpreendentes: pessoas expostas a níveis elevados de radão tinham, em média, quatro vezes mais chumbo-210 nas unhas dos pés do que aquelas em casas com níveis baixos. Mesmo após medidas de mitigação, o isótopo permanecia detetável até seis anos depois.

“A tarefa de medir quantidades ultratraço do isótopo foi extremamente desafiante, mas as unhas dos pés contaram uma história consistente sobre exposição e mitigação”, explicou Kerri Miller, química e coautora do estudo.

Se validado, este método poderá transformar a prevenção do cancro do pulmão no Canadá, permitindo identificar pessoas em risco que não fumam e que atualmente não são abrangidas por programas de rastreio. O estudo piloto está a expandir-se, com o objetivo de recrutar até 10.000 voluntários que testarão as suas casas e enviarão recortes de unhas dos pés.

“Pacientes com cancro do pulmão estão a viver mais, mas precisamos identificar o risco mais cedo. Programas de deteção precoce são eficazes na redução da mortalidade”, afirmou Tim Monds, diagnosticado em 2016.

Para Bossio, a investigação representa esperança: “As pessoas precisam de perceber que qualquer pessoa pode ter cancro do pulmão. Aplaudo a pesquisa que o laboratório Goodarzi está a realizar.”

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