Nos últimos meses, multiplicaram-se os alertas nas redes sociais e até em programas de rádio e televisão: “deve guardar dinheiro vivo em casa”.
Um conselho que parece antigo, mas que agora ganha um tom quase urgente. Por trás desta recomendação está uma realidade inquietante: o dinheiro físico está a desaparecer, e com ele pode estar em causa a nossa liberdade financeira.
O motivo é a chegada do Euro Digital, uma moeda totalmente virtual emitida pelo Banco Central Europeu. Oficialmente, o objetivo é modernizar e simplificar os pagamentos. Mas especialistas alertam que esta transição representa também uma mudança de poder, dá conta o Leak.
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Atualmente, é possível levantar dinheiro, guardá-lo em casa ou fazer pagamentos sem deixar rasto. Com o Euro Digital, todo o dinheiro passará por um sistema centralizado, que saberá onde, quando e em quê gastaste cada cêntimo. Isto significa que o acesso ao dinheiro pode ser bloqueado, limitado ou condicionado pelo banco ou pelas autoridades.
O cenário imaginado é preocupante: contas podem ser congeladas por suspeita de fraude, saldos parados sujeitos a impostos diretos, ou levantamentos limitados a valores semanais. Com dinheiro físico, é possível contornar estas restrições; com dinheiro digital, não haverá escapatória.
Paradoxalmente, a recomendação de manter algum dinheiro em casa torna-se cada vez mais difícil de cumprir. Taxas sobre depósitos e levantamentos, a diminuição de caixas automáticas em localidades pequenas e a recusa de notas em algumas lojas são sinais de uma transição lenta e quase invisível para uma sociedade sem dinheiro físico.
Ter dinheiro em casa continua a ser uma medida de segurança, mas especialistas alertam que, quando o Euro Digital se tornar dominante, notas e moedas podem perder validade legal, como já aconteceu em reformas monetárias noutros países.
O verdadeiro perigo é não apenas perder o acesso ao dinheiro, mas perder o conceito de posse e autonomia financeira. O dinheiro físico sempre representou liberdade e privacidade; com a sua gradual extinção, essa liberdade pode diluir-se transação após transação.
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