Pelo menos 61.000 crianças foram mortas ou mutiladas na Faixa de Gaza nos dois anos de guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, ou seja, uma vítima a cada 17 minutos, anunciou hoje a UNICEF.
“Este é um número inaceitável e avassalador. As crianças sofrem física e mentalmente há demasiado tempo, foram expostas a horrores que nenhuma criança deveria ter de ver ou experimentar, ficaram órfãs, perderam as suas casas, foram deslocadas várias vezes e foram expostas a doenças e violência numa escala sem precedentes”, disse porta-voz da agência da ONU para a infância, Ricardo Pires, em Genebra.
Apesar das esperanças em torno das negociações em curso entre Israel e o Hamas para o fim do conflito, funcionários da UNICEF em Gaza relataram nas últimas horas que a violência continua no norte e sul do enclave, através de “bombardeamentos, ataques aéreos e morte de crianças”.
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Pires denunciou ainda que 18 bebés prematuros ainda estão na cidade de Gaza ou noutras áreas no norte do território, bem como várias incubadoras e ventiladores que foram deixados em hospitais cuja evacuação foi ordenada pelo exército israelita.
O mesmo porta-voz referiu que no hospital de Al-Helou há dez bebés (um com ventilador mecânico) e 12 incubadoras, enquanto noutros três centros de saúde há mais três bebés, cinco recém-nascidos e mais 18 incubadoras.
O stress e as terríveis condições de saúde fizeram com que pelo menos um em cada cinco bebés nascesse prematuramente em Gaza.
O porta-voz disse que muitos desses bebés não sobreviverão sem o equipamento necessário para os manter seguros e vivos.
“Estamos a tentar mover essas incubadoras e ventiladores, mas até agora isso tem-nos sido negado [pelas forças israelitas]. Esperamos que, até ao final da semana, consigamos fazê-lo”, comentou.
Na madrugada de 07 de outubro de 2023, milícias palestinianas lideradas pelo Hamas atacaram várias localidades e uma multidão de pessoas num festival de música, enquanto eram lançados milhares de foguetes contra Israel, causando cerca de 1.200 mortos, a maioria civis, e 251 reféns.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, líder de um governo de coligação com a extrema-direita e ultraortodoxos religiosos, proclamou que Israel estava em guerra e prometeu aniquilar o Hamas, que responsabilizou pelo pior massacre de judeus desde o Holocausto.
A ofensiva israelita, que começou no mesmo dia, causou até agora mais de 67 mil mortos e 170 mil feridos, segundo o Governo do Hamas, que controla Gaza desde 2007. A ONU considera estes dados como fidedignos.
Do lado israelita, um total de 1.152 militares morreu em combate em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano nos últimos dois anos, segundo o Ministério da Defesa israelita.
Israel impôs um bloqueio à entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano e condicionou o trabalho das organizações internacionais no terreno, nomeadamente da ONU, perante acusações de usar a fome como arma de guerra – cerca de 460 palestinianos morreram por desnutrição desde o início da guerra, incluindo 154 crianças.
No mês passado, uma comissão independente da ONU concluiu que Israel é responsável pela prática de genocídio em Gaza.
As autoridades israelitas negam ambas as alegações e acusam o Hamas, considerado uma organização terrorista, de usar a população como escudo e infraestruturas civis como instalações militares.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou um plano de paz com 20 pontos, que teve o acordo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enquanto o Hamas aceitou alguns elementos, mas quer negociar outros.
As negociações estão a decorrer, de forma indireta, no Egito, que tem sido um dos mediadores, a par do Qatar e dos Estados Unidos.
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