Na Casa das Artes Bissaya Barreto, em Coimbra, celebrou-se este sábado, 4 de outubro, o 3.º aniversário do Hype Market.
Entre os 45 expositores presentes, as cores, as texturas e a emoção de uma história de vida destacaram-se numa banca especial: a da Nmel Crochet, marca criada por Neuza Pereira, com 62 anos, de Cantanhede.
Mas mais do que malas, chapéus ou porta-moedas, o que Neuza trouxe ao mercado foi uma história de superação. “Comecei o crochet para sair de uma depressão. Tinha perdido o meu gatinho, o Picasso, e fiquei devastada. A minha filha, Melissa, foi quem me estendeu a mão: apresentou-me o crochet e mudou a minha vida”, conta, com emoção.
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A primeira peça nasceu de um pedido carinhoso da filha. “Ela pediu-me uma mala para levar a um casamento. As pessoas gostaram tanto que a Melissa disse: Mãe, começa, porque isto vai fazer-te bem. E tinha razão. Desde então nunca mais parei”, recorda.
Do vínculo entre mãe e filha surgiu também o nome da marca: Nmel Crochet. “O N é de Neuza, o Mel é de Melissa. O símbolo é um gatinho, em memória do Picasso, que também faz parte desta história”, explica.
Nas mesas do Hype Market, as peças chamam a atenção pelo design ousado e pela mistura de materiais. Há malas feitas em crochet com alças de cabedal cortadas à mão, modelos com formas improváveis como um caracol ou até uma criação a que chamou “Triângulo das Bermudas”. “Não faço crochet antigo. O meu crochet é inovador, diferente, fora do vulgar. Gosto de surpreender”, diz, sorrindo.
Os clientes confirmam essa diferença. “Dizem-me sempre que o meu trabalho é diversificado e excelente. Isso enche-me de orgulho e dá-me força para continuar”, partilha.
Três anos depois, Neuza olha para as linhas e vê nelas muito mais do que artesanato: vê cura, vida e identidade. “O crochet entrou para me salvar e tornou-se parte de mim. Vivo, respiro e sobrevivo através dele”, confessa.
Sem loja física, a artesã encontra no Instagram e nas feiras de artesanato como o Hype Market as suas maiores vitrinas. É aí que partilha não só peças, mas também a história que cada uma delas carrega.
No fim, resume o seu percurso numa frase que parece bordada no coração:
“Ser artesã é transformar sonhos em realidade. O meu primeiro sonho foi reencontrar-me — e consegui. Agora, cada peça que faço é um sonho que partilho com os outros.”
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