Coimbra
Quando a cidade ouviu, pela primeira vez, vozes femininas na Serenata: “O que importa é o amor pelo Fado de Coimbra”

A noite de 1 de outubro ficará para sempre na história académica da cidade. Pela primeira vez, o Fado de Coimbra foi cantado por vozes femininas na Serenata Monumental, que marcou o arranque da Festa das Latas.
O feito coube ao grupo Honoris Causa, fundado há menos de um ano e que subiu pela primeira vez ao palco da Sé Nova.
As protagonistas foram Constança Peixoto e Tânia Fonseca, que não esconderam a emoção. “Foi maravilhoso. É um trabalho que já vem de há pelo menos três anos. Fomos construindo este projeto juntos e a verdade é que as pessoas já estão muito abertas a esta nova realidade, que se calhar até já podia existir há mais tempo”, afirmou Constança.
Para Tânia, o momento foi mais do que histórico: foi pessoal. “Nem sabíamos que era um sonho até estarmos aqui. Foi muito trabalho, gradual, mas soube muito bem, principalmente por estar com pessoas incríveis e amigos que nos apoiaram tanto. É graças a isso que estamos aqui hoje”, sublinhou.
O grupo frisa que a inclusão de vozes femininas não foi uma imposição, mas algo natural. “Não olhámos para isto como uma necessidade de incluir mulheres. Somos um grupo de amigos que já tocava junto e fez sentido formalizar. Aconteceu de forma natural”, explicou um dos elementos do Honoris Causa, recordando também o contributo de antigos colegas e professores.
Entre os nomes lembrados estiveram Joana Carvalho, Filipa Freira e Margarida Pardal, que não puderam partilhar o palco, mas a quem o grupo atribui parte do mérito. “Este momento é também delas”, afiança.
Para João Afonso, outro dos membros do grupo, o essencial é o talento e a dedicação: “Nunca houve uma limitação às mulheres no Fado de Coimbra. Faltava era mobilidade e oportunidade. O nosso trabalho não é ser a cara de um movimento, é mostrar que quando há qualidade e empenho, não interessa se é homem ou mulher, novo ou velho. O que importa é o amor pelo Fado de Coimbra.”
Constança fez questão de homenagear também as mulheres que, nos corredores da Associação Académica, cantavam em tempos idos e inspiraram novas gerações: “Estamos aqui muito graças a elas. Foi ao ouvi-las que quisemos experimentar, ficar e hoje conseguimos estar neste palco.”
Assim, Coimbra assistiu não apenas a uma serenata, mas a um marco na sua tradição académica, onde a memória e a renovação se encontraram em palco.
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