Crimes

Estudo alerta para violência no X contra mulheres em funções públicas em Portugal

Notícias de Coimbra com Lusa | 1 hora atrás em 29-09-2025

 As mulheres com funções públicas e atividade na rede social X em Portugal são frequentemente vítimas de violência, tanto com ataques pelas suas capacidades como pela filiação política, revela um estudo internacional apresentado hoje.

Na análise para Portugal, foram monitorizadas 43 contas na rede social X (antigo Twitter), de “perfis de mulheres com atividade conhecida e recorrente”, durante o mês de setembro de 2024, explicou Marta Silva, chefe de equipa do Núcleo de Prevenção da Violência Doméstica e Violência de Género da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG).

Foram definidas cinco categorias de análise dos conteúdos agressivos e violentos e o trabalho visou perceber se as interações violentas eram apenas violentas em si ou se eram violentas porque eram especificamente dirigidas a mulheres com visibilidade no espaço público.

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As categorias dividiam-se entre ameaças, subestimação das capacidades, comentários ao corpo e à sexualidade, ataques baseados na identidade e ataques com base na filiação política.

“Das quase 600 mil interações que foram analisadas, um quinto revelaram de facto conteúdos agressivos e violentos dirigidos às autoras destas partilhas”, revelou Marta Silva, acrescentando que as 43 contas analisadas incluem “mulheres de todas as filiações partidárias e de vários espetros de ativismo”.

A responsável frisou que, pela sua natureza específica e por terem sido analisadas apenas 43 contas, os dados não podem ser extrapolados para a realidade nacional.

Em termos globais, Portugal aparece no meio da tabela, com o México em primeiro lugar (40,6%), seguindo-se a Bolívia (39,9%), Uruguai (26,9%), Portugal (20,4%), Espanha (12,1%), Panamá (10,9%), Andorra (6,7%) e República Dominicana (5,2%).

“Quando olhamos para a categorização destes ataques, destas interações violentas, predomina, no caso de Portugal, a subestimação das capacidades, muito ancorada em estereótipos de género, (…) com ataques também à sua idoneidade”, adiantou.

De acordo com Marta Silva, “60% das interações violentas são ataques diretos e questionamento da sua capacidade para estar a exercer cargos e para ter voz pública”, havendo 41% de ataques à filiação política e ao empenhamento cívico.

Foram identificadas 13.704 contas que interagiram com as mulheres selecionadas, tendo-se contabilizado 5.340 contas violentas.

Dez por cento das contas mais violentas foram responsáveis por 30% das mensagens violentas.

Para a presidente da CIG, os dados são “uma ponta do icebergue”, tendo em conta o período curto de análise e a “quantidade enorme de interações violentas”.

“É fundamental um esforço coletivo para lidar, gerir, prevenir, combater esta realidade da violência digital que assume muitas formas e muitos alvos”, defendeu Carina Quaresma.

A secretária de Estado Adjunta e da Igualdade, por seu lado, apontou que “a violência digital contra as mulheres é uma preocupação coletiva que exige, não apenas reflexão, mas também ação concreta por parte de todas as instituições públicas”.

“Os resultados obtidos são um pequeno vislumbre das interações violentas a que as mulheres e raparigas são sujeitas todos os dias, em todas as redes sociais, quer tenham ou não uma voz ativa na sociedade civil”, defendeu Carla Rodrigues.

Disse ainda que o estudo é um apelo à ação e que a violência digital não se combate apenas com leis, mas com educação digital, responsabilização das plataformas e políticas públicas que coloquem a igualdade no centro da transformação digital.

O estudo, “Prevenir a violência digital contra as mulheres na ibero-américa”, avaliou a realidade de oito países, nomeadamente Portugal, além de México, Bolívia, Uruguai, Espanha, Panamá, Andorra e República Dominicana, e é da responsabilidade da Secretaria-Geral Ibero-Americana, uma organização internacional que apoia 22 países.

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