Coimbra

Rua da Sofia: um Património Mundial “quase” invisível

Angel Machado | 3 meses atrás em 24-09-2025

Coimbra, manhã de outono, ano 2025. A Rua da Sofia, com os seus colégios e muita história, permanece indiferente às modas e às classificações. Passados doze anos de um espaço classificado como Património Mundial da UNESCO, a Sofia, como é conhecida, continua a ser o chão para o movimento constante de carros e autocarros que atravessam a artéria.

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Mas poucos, no entanto, sabem que caminham sobre uma rua rasgada em 1535, segundo modelos renascentistas inspirados na Sorbonne, em Paris. A Rua da Sofia foi, no seu tempo, considerada uma das maiores e mais modernas ruas da Europa.

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Não há placas, não há inscrições, nem sequer uma referência discreta. “É uma rua como outra qualquer”, comenta um estudante, de mochila às costas, à porta de um café. Mas não é. O traçado reto, largo, com cerca de meio quilómetro de extensão, liga a Ladeira de Santa Justa à Praça 8 de Maio. Foi ali que nasceram 27 colégios religiosos, destinados a dar corpo ao projeto universitário que nunca chegou a concretizar-se naquela zona. Hoje, restam apenas sete edifícios e respetivas igrejas, que se erguem discretos entre lojas, farmácias e pastelarias.

Na fachada gasta do antigo Colégio da Graça, uma placa recorda a função original. O mesmo se repete junto ao Colégio de São Tomás de Aquino ou ao de São Boaventura. São testemunhos de uma época em que a Rua da Sofia representava a centralização do saber, como o próprio nome indica — Sophia, em grego, significa sabedoria.

“É impressionante pensar que já foi uma das ruas mais importantes da Europa e agora quase passa despercebida”, observa uma turista espanhola, mapa na mão, à saída do Mosteiro de Santa Cruz, outro marco histórico.

Com o tempo, a vocação académica deu lugar ao comércio. O burburinho de estudantes e religiosos foi substituído pelo vai-e-vem de clientes, bancas de roupa e vitrinas iluminadas. Mas, para os mais atentos, os sinais do passado continuam lá: nos arcos, nos pátios escondidos, nas igrejas que resistem ao tempo.

Classificada pela UNESCO em conjunto com a Universidade e a Alta de Coimbra, a Rua da Sofia mantém um património histórico de peso. O que lhe falta é visibilidade. Entre o quotidiano apressado, o silêncio e a ausência de sinalização, continua a ser um tesouro que poucos reconhecem.

Enquanto isso, a Rua da Sofia resiste no dia a dia da cidade, meio escondida, pouco celebrada e quase esquecida. Património Mundial no papel, mas invisível a quem a percorre.

Espera-se que a “Manifesta” que se promete transformar a Rua da Sofia num Jardim das Hespérides da Europa, traga esplendor e vida à mais notável rua da urbe.

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