Os incêndios consumiram, entre 01 de janeiro e 22 de setembro, cerca de 34 mil hectares de áreas protegidas, com a serra da Estrela e o Douro Internacional a concentrar mais de metade da área ardida, segundo dados oficiais.
De acordo com dados provisórios do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), esta área corresponde “a 5,6% do total da superfície das áreas protegidas” que foram atingidas por fogos rurais em 2025 e “a 4,4% da área total da Rede Nacional de Áreas Protegidas (superfície terrestre)”.
As chamas afetaram principalmente o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) – onde arderam 9.302 hectares (ha), o correspondente a 10,4% da área protegida – e o Parque Natural do Douro Internacional – onde os incêndios consumiram 9.199 ha (10,6%).
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Juntos, estes dois parques concentram mais de metade da área total consumida pelo fogo na Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP).
Os dados revelam, contudo, que foi a Paisagem Protegida da Serra do Açor que registou, até segunda-feira, a maior percentagem de superfície ardida. Os 351 ha consumidos pelas chamas correspondem a 93,9% daquela área protegida.
Na Paisagem Protegida Regional da Serra da Gardunha a percentagem é menor, mais ainda assim representa 41% da sua superfície. No total arderam 4.346 ha.
Ainda segundo os dados provisórios enviados à Lusa, no Parque Nacional da Peneda-Gerês arderam 5.909 ha (8,5%) e no Parque Natural do Alvão 1.700 ha (23,5%).
Também foram afetados o Parque Natural da Serra de São Mamede (841 hectares), o Parque Natural Regional do Vale do Tua (783 ha), a Paisagem Protegida Regional Parque das Serras do Porto (673 ha) e o Parque Natural de Montesinho (494 ha).
Questionado sobre o impacto destes incêndios no desenvolvimento dos Programas Especiais de Áreas Protegidas (PEAP), o ICNF esclarece que, face ao incêndio que começou em Piódão e se alastrou, na noite de 17 de agosto, ao Parque Natural da Serra da Estrela, o PEAP do parque que se encontra na Fase 1 – referente ao Estabelecimento da Situação de Referência em desenvolvimento – “será atualizado para incluir os dados dos recentes incêndios”.
Segundo aquela entidade, o incêndio que atingiu o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) entre os dias 16 e 25 de agosto “afetou comunidades vegetais de relevância ecológica”.
A área ardida, que incluiu 41% de pinhais de pinheiro-bravo, levou à necessidade de priorizar a intervenção nestas áreas de pinhal para auxiliar na estabilização dos solos e de outros materiais e noutras de “máxima relevância ecológica” como “áreas de carvalhal, salgueirais, medronhal, zimbral, cervunais, piornais e matos de urzes higrófilas, por tratar de áreas de máxima relevância ecológica, algumas únicas e com valor identitário do território afetado”.
Relativamente ao Parque Nacional da Peneda-Gerês, não se prevê que o fogo de julho afete a conclusão do Programa Especial (prevista para este ano ainda), uma vez que a problemática já está identificada como uma das “principais condicionantes” no seu planeamento.
No entanto, está a ser ponderada a criação de uma área de intervenção específica, “a exemplo do que foi considerado para o caso da Mata do Mezio, ardida anteriormente, que estabeleça um conjunto de ações específicas para recuperação e restauro dos habitats afetados”.
Segundo o ICNF, os mais recentes incêndios “não afetaram a execução dos outros PEAP, na medida em que estes se encontram em fase de elaboração do processo de recondução a programa especial”.
No entanto, considerando o impacto dos fogos rurais nos territórios afetados, especialmente no Parque Natural do Alvão e no Parque Natural do Douro Internacional, aquela entidade admite “vir a ser ponderada a inclusão de Áreas de Intervenção Especifica, direcionadas à promoção de ações de recuperação e restauro de habitats”.
Na Paisagem Protegida da Serra do Açor, onde 93,9% da área protegida ardeu, o recente incêndio será considerado na proposta de Programa de Execução, que já inclui medidas de recuperação e restauro de habitats e de prevenção estrutural. Também neste caso, não se perspetivam alterações significativas na proposta de Programa Especial.
Em agosto, três dos quatro programas especiais para áreas naturais protegidas, a cargo do ICNF e que em 2023 estavam em “estado avançado de elaboração”, continuavam por concluir e apenas um aguardava aprovação.
Também a passagem de 20 dos 25 Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas (POAP) a Programas Especiais, em curso desde 2023, se encontrava, à data, em fase de elaboração da proposta preliminar, a meses do fim do prazo determinado em concurso.
Os POAP estabelecem a política de salvaguarda e conservação que se pretende instituir na Rede Nacional de Áreas Protegidas do continente, integrada por 51 áreas, entre as quais um parque nacional, 13 parques naturais, nove reservas naturais, duas paisagens protegidas e sete monumentos naturais. Vinte e cinco têm POAP em vigor.
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