Dispersas por encruzilhadas, muros e caminhos rurais, as “alminhas” de Condeixa-a-Nova continuam a marcar a paisagem espiritual do concelho, preservando uma tradição religiosa com raízes profundas e origens ainda debatidas.
No concelho de Condeixa-a-Nova, as alminhas, pequenos monumentos religiosos erguidos à beira de caminhos ou integrados em muros, continuam a testemunhar uma forma de religiosidade popular que atravessa séculos. Representando as almas no Purgatório, estes marcos simbólicos invocam orações dos vivos em troca de proteção espiritual.
Embora a sua origem não seja consensual, estudiosos dividem-se entre duas explicações: uns apontam raízes nos antigos cultos romanos aos Lares Viales e Compitales, que protegiam as encruzilhadas e os lares; outros defendem que as alminhas surgem já no contexto da Contrarreforma Católica, como instrumento da Igreja para reforçar a doutrina do Purgatório, então contestada pelos movimentos protestantes.
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Mais comuns em zonas rurais e pontos de fronteira, como encruzilhadas ou limites de povoações, as alminhas têm também uma localização simbólica: situam-se entre dois mundos, o dos vivos e o dos mortos, o terreno e o divino. Nessa perspetiva, cada alminha funciona como mediadora espiritual, estabelecendo uma relação de ajuda mútua: o crente reza e acende a lamparina, libertando almas do sofrimento, e recebe, em troca, proteção nos seus caminhos.
As inscrições, muitas vezes gravadas na pedra, são reveladoras dessa crença na reciprocidade espiritual:
“Ó vós que aqui vindes tão descuidados de nós, lembrai-vos das nossas almas que nós nos lembramos de vós” ou “Ó vós que ides passando, lembrai-vos das almas que estão penando” são apelos diretos à memória e empatia dos passantes.
A Extensão Educativa de Condeixa-a-Nova, criada em 1990, tem vindo a trabalhar ativamente na preservação deste património imaterial, incluindo a recolha fotográfica, documental e oral destas práticas, ameaçadas pelo esquecimento gerado pelo avanço da urbanização e pela rutura com os modos de vida tradicionais.
O levantamento fotográfico das alminhas no concelho, realizado por Fernando Abreu e Rui Miranda e editado pela Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova em 2001, é um dos esforços mais significativos para garantir que esta memória coletiva não se perca.
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