Coimbra

O futuro de Coimbra está à distância de 15 minutos… a pé ou de bicicleta

Notícias de Coimbra com Lusa | 2 horas atrás em 23-09-2025

Coimbra tem vários bairros de proximidade – também conhecidos como de 15 minutos -, mas é necessário priorizar a mobilidade ativa e os transportes coletivos e tirar o carro do topo da hierarquia para a ideia se concretizar, conclui tese.

Intitulada “Bairros Sustentáveis – Modos ativos e saúde”, a tese de doutoramento de Mehrnaz Zargarzadeh, do Departamento de Engenharia Civil (DEC) da Universidade de Coimbra, debruça-se sobre a forma como o bom planeamento urbano pode encorajar a mobilidade ativa e os seus impactos na saúde, desenvolvendo o conceito de “bairros sustentáveis”, alinhado com a ideia de cidade de 15 minutos (zonas onde a maioria das necessidades diárias são garantidas em deslocações a pé ou de bicicleta a partir de casa, com uma duração máxima de 15 minutos).

A investigadora desenvolveu a ferramenta SAMI (índex de adequação a modos ativos), com 11 fatores (densidade populacional, uso misto do solo, densidade de serviços e comércio, frequência e densidade de transporte público, passeios e ciclovias, entre outras), para determinar que zonas de Coimbra poderiam estar dentro do conceito de “bairros sustentáveis”.

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A tese defendida recentemente e a que a agência Lusa teve acesso conclui que grande parte do centro da cidade já se enquadra no conceito, abrangendo partes consideráveis das freguesias de Santo António dos Olivais, União de Freguesias de Coimbra e de Santa Clara.

Estas zonas apresentam um uso mais diverso do solo (comércio, habitação e serviços), mais espaços verdes, passeios e melhor transporte coletivo.

No entanto, Mehrnaz Zargarzadeh afirmou à Lusa que, no caso do centro da cidade, falta sobretudo alterar a hierarquia dos meios de transporte no espaço público, onde o carro continua a estar no topo.

A orientadora da tese e docente do DEC, Anabela Ribeiro, reforça a ideia: “a cultura de usar o transporte público e o modo ativo ainda é reduzida”.

“A cidade está bem adaptada ao conceito de cidade de 15 minutos, mas as pessoas não usam os modos ativos ou o transporte público e muitas pessoas usam o carro para distâncias que seriam caminháveis ou cicláveis”, notou a docente, considerando que, no caso das distâncias mais longas, “o transporte coletivo não é ainda fiável e, portanto, não é uma alternativa”.

Para alterar esses comportamentos, a investigadora considerou que é necessário garantir bom transporte coletivo, condições para andar a pé e de bicicleta e, em articulação, reorganizar o tráfego da cidade e desenvolver uma política que permita condicionar mais o acesso a estacionamento gratuito, retirando algum espaço ao carro.

Em declarações à Lusa, Mehrnaz Zargarzadeh realçou que, no caso do uso da bicicleta em Coimbra, além da falta de densidade de ciclovias, poderia haver apoio ao uso de bicicletas elétricas, face ao declive acentuado em algumas partes da zona central da cidade.

Apesar disso, há um viés na perceção sobre o uso de bicicleta em Coimbra, já que mais de 70% das viagens diárias são de distância curta e não têm grandes declives, aclarou Anabela Ribeiro.

“Em Coimbra, a potencialidade de andar de bicicleta é muito mais alta do que as pessoas pensam”, salientou.

Se no centro do município é fácil identificar esses bairros sustentáveis, o mesmo não acontece na periferia, onde podem faltar passeios e ciclovias.

O estudo conclui também que a disponibilidade de transporte coletivo é “inconsistente e com baixa densidade” e o acesso a espaços verdes e serviços também apresenta disparidades no concelho.

No futuro, a investigadora pretende fazer uma análise ainda mais fina e detalhada, avaliando questões como a qualidade dos passeios, a sua largura, acessibilidade e iluminação.

Mehrnaz Zargarzadeh disse que a SAMI poderá vir a ser aplicada por municípios para fins de planeamento.

Para a investigadora, a ferramenta “pode ajudar a ver a cidade, analisar cada área e perceber o que é mais adequado para tornar cada zona mais inclusiva e definir que ações serão prioritárias”.

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