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Chimpanzés são “bêbados” por natureza

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 horas atrás em 23-09-2025

Um estudo recente publicado na Science Advances revela que os chimpanzés selvagens, ao se alimentarem de frutas maduras, ingerem pequenas quantidades de álcool de forma inadvertida. Pesquisadores estudaram populações em Uganda e na Costa do Marfim e oferecem as primeiras estimativas diretas da ingestão de etanol (álcool) por estes primatas em estado selvagem.

Segundo Robert Dudley, professor de biologia integrativa na Universidade da Califórnia, Berkeley, e autor sénior do estudo, “os chimpanzés comem de 5 a 10% do seu peso corporal por dia em frutas maduras, pelo que mesmo baixas concentrações produzem uma dose substancial de álcool”.

A teoria, conhecida como “hipótese do macaco bêbado”, sugere que a predileção humana pelo álcool poderá ter origens evolutivas profundas: os nossos antepassados primatas usariam o aroma e o sabor do etanol para localizar frutas maduras e energéticas. Até agora, esta ideia era principalmente especulativa, mas os dados recolhidos por Aleksey Maro, estudante de pós-graduação na UC Berkeley, e colegas fornecem provas concretas.

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Os investigadores monitorizaram chimpanzés em Ngogo, Uganda, e Taï, Costa do Marfim, cobrindo diferentes subespécies. Para medir os níveis de etanol, utilizaram um cromatógrafo a gás portátil, testes químicos de mudança de cor e sensores semicondutores semelhantes a bafómetros. As medições indicaram que as frutas consumidas pelos chimpanzés contêm, em média, 0,31 a 0,32% de etanol em peso — valores comparáveis ao kombucha, mas mais de dez vezes inferiores à cerveja comum.

Mesmo assim, ao ingerirem mais de 4,5 quilos de frutas por dia, os chimpanzés acabam por consumir cerca de 14 gramas de etanol diariamente — o equivalente a 1,4 doses padrão nos EUA. Ajustando pela massa corporal, corresponderia a 2,2 a 2,6 doses por dia para um humano.

Apesar disso, os investigadores não observaram sinais evidentes de embriaguez. “Isto ocorre provavelmente porque os chimpanzés consomem as frutas gradualmente ao longo do dia, espaçando a ingestão de álcool”, explica Dudley. Kimberley Hockings, da Universidade de Exeter, acrescenta que os dados sugerem que o álcool não impede a alimentação, mas não está claro se os chimpanzés são atraídos pelo álcool em si ou apenas pelo açúcar das frutas.

A pesquisa destaca ainda que a fermentação das frutas é um processo antigo: leveduras e plantas frutíferas carnosas coevoluíram há mais de 100 milhões de anos, criando uma relação mutualista entre microrganismos, plantas e primatas. Esta interação terá deixado marcas no genoma: humanos e grandes símios partilham uma versão do gene ADH4, que metaboliza etanol de forma mais eficiente, oferecendo vantagens digestivas aos que consumiam frutas fermentadas.

“Herdámos o gosto pelo álcool. Mesmo com dietas mais diversificadas, a tendência para consumir quando esta molécula está presente ainda pode ser poderosa”, sublinha Dudley.

O estudo reforça que o álcool pode ter sido um sinal de sobrevivência para os primeiros hominídeos, guiando-os até fontes ricas em calorias. Em última análise, a ingestão acidental de álcool por chimpanzés e outros animais sugere que este composto não é apenas um subproduto da fruta madura, mas pode ter desempenhado um papel evolutivo significativo.

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