Uma camisa branca manchada, seja pelas axilas amareladas ou por respingos de molho de tomate, tem normalmente dois destinos: uma ida ao químico ou o esquecimento no fundo do armário. Mas investigadores no Japão descobriram uma alternativa surpreendentemente suave: a luz azul.
A tecnologia utiliza luz LED azul de alta intensidade, com 445 nanómetros, capaz de degradar os compostos responsáveis pelo amarelamento sem prejudicar tecidos delicados. “Ficámos surpresos com a eficácia do processo”, afirmou Tomohiro Sugahara, cientista da Asahi Kasei Corporation e autor principal do estudo publicado na ACS Sustainable Chemistry & Engineering e publicado no The New York Times. “Ver o método funcionar tão bem em camisas sociais reais foi especialmente impressionante.”
As manchas amarelas persistem devido a compostos presentes no suor e na oleosidade da pele, como esqualeno e ácido oleico, ou a pigmentos alimentares como betacaroteno e licopeno, encontrados em tomates e laranjas. Métodos tradicionais, como alvejante ou luz ultravioleta, podem remover as manchas, mas danificam fibras e requerem químicos agressivos ou energia extra, com impacto ambiental significativo.
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Sugahara e o colega Hisanari Yoneda já tinham demonstrado que a luz azul podia remover o amarelamento de plásticos. No laboratório, expuseram compostos causadores de manchas a luz LED azul em contacto com oxigénio atmosférico. Em três horas, os compostos desbotaram, com ligações químicas transformadas em moléculas incolores, num processo que chamaram de fotobranqueamento sustentável.
Para confirmar o método em camisas, os investigadores aplicaram esqualeno em amostras de algodão e envelheceram-nas com calor. Testaram três tratamentos: peróxido de hidrogénio, luz UV e luz LED azul. O resultado? A luz azul venceu, removendo mais amarelamento em apenas 10 minutos, sem danificar o tecido — até seda e poliéster resistiram ao tratamento. O método funcionou também em manchas de alimentos, como suco de laranja e molho de tomate, e não alterou cores de tecidos xadrez ou pretos e brancos.
Especialistas sublinham ainda o impacto ambiental positivo: “A lavagem tradicional gera muitos microplásticos. Este método reduz o uso de água e forças mecânicas, prolongando a vida das roupas e diminuindo desperdício têxtil”, afirmou Hinestroza, da Universidade Cornell.
Apesar dos resultados promissores, o método ainda não está disponível comercialmente. É necessária uma lâmpada específica com o comprimento de onda exato, e testes de segurança e solidez da cor continuam. Segundo os investigadores da Asahi Kasei Corporation, a tecnologia poderá estar pronta para uso em cinco anos, primeiro em lavandarias, lojas de vestidos de noiva ou serviços de aluguer de fantasias, e posteriormente em electrodomésticos domésticos.
À medida que cresce a procura por soluções de consumo mais limpas e sustentáveis, esta inovação promete transformar a forma como tratamos as manchas, oferecendo uma alternativa sem alvejantes, sem calor extremo e sem químicos agressivos.
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