O arranque deste ano letivo trouxe um aumento significativo da procura por explicações particulares em Portugal, uma tendência associada à falta de professores nas escolas, à mudança no modelo de exames e às dificuldades no recrutamento de explicadores, apontam diretores de centros de explicações ouvidos pelo Jornal de Notícias (JN).
No Algarve, o fenómeno é explicado sobretudo pela escassez de docentes. Alexandra Quintas, diretora do Einstein Explicações, em Faro, afirma que recebeu telefonemas e emails de pais durante as férias escolares, preocupados em garantir vagas para os filhos em várias disciplinas. Já em Lisboa, Rafaela Dias, do centro “Pi R Quadrado”, revela que no ano passado alguns alunos estiveram sem aulas de Inglês e Matemática durante quase todo o ano letivo.
No Porto, Leonor Sousa, diretora do centro Boavista, refere que ainda há vagas, mas nota um aumento de procura em disciplinas como Geometria Descritiva, cuja média negativa obriga muitos alunos a repetir a disciplina.
PUBLICIDADE
Matemática continua a ser a disciplina mais demandada desde o Básico, seguida de Português — cuja obrigatoriedade como exame no 12.º ano aumentou a procura —, Física, Química e Biologia. O desafio de recrutar explicadores qualificados, licenciados e com experiência, sobretudo em regime part-time, tem dificultado a expansão da oferta dos centros. Muitos docentes preferem dar explicações online a partir de casa, uma tendência que se acentuou desde a pandemia.
A modalidade online tornou-se essencial para centros de explicações, permitindo atender mais alunos e com maior flexibilidade de horários. José Carlos Ramos, diretor-geral do Explicolândia, destaca que a plataforma permite comunicação constante entre alunos e explicadores, sendo preferida sobretudo por estudantes do Secundário e do Ensino Superior. Alguns centros chegam a atender alunos de países tão distantes como Equador, Brasil, Angola ou Macau.
Os diretores alertam para mudanças no perfil dos alunos. José Carlos Ramos explica ao JN que muitos estudantes estão “menos autónomos e com menor capacidade de concentração”, enquanto Rafaela Dias observa que, sobretudo os mais novos, “não conseguem estudar sozinhos em casa”. Apesar disso, os explicadores reforçam que as explicações não substituem o trabalho escolar regular.
Os preços das explicações variam conforme a modalidade, o ano escolar e a região do país: em Lisboa, podem ir de 13 a 20 euros por hora no 1.º ciclo e de 18 a 24 euros no Secundário. Desde 2005, professores podem acumular horários em centros, mas não podem lecionar para alunos da própria escola. O Conselho Nacional de Educação recomenda a regulamentação da atividade e a fiscalização das qualificações dos explicadores, embora a implementação de regras seja considerada complexa pela Confederação Nacional de Pais.
Um inquérito da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, de 2019, indicou que 29,3% dos alunos recorreram a explicações fora da escola, sobretudo em cursos científico-humanísticos, evidenciando a relevância desta prática no sistema educativo português.
PUBLICIDADE