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O Ronaldo-Ventura “made in” Macau

Notícias de Coimbra | 1 hora atrás em 21-09-2025

Imagem: Lusa

José Pereira Coutinho, o português que há uma semana mais votos diretos recebeu nas legislativas de Macau, define-se como “o Ronaldo” e “o Ventura” da região semiautónoma, “amado” pela comunidade chinesa e desprezado pelos media locais de língua portuguesa.

“Sinto-me triste, [pela forma] como sou tratado pelos meios de comunicação social portugueses de Macau. Com uma ou outra pequena exceção, o resto só me critica. No meio de tudo isto, a maior satisfação é ter a comunidade chinesa ao meu lado”, afirmou o deputado em entrevista à Lusa no rescaldo das eleições para a Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), há uma semana.

“Eu, como português, estar numa equipa… É como o Ronaldo estar na Arábia Saudita e ser tão bem recebido pelos sauditas”, ilustrou.

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Se os chineses residentes de Macau o “amam”, em contrapartida, José Pereira Coutinho reclama ser ostracizado pela comunicação social de língua portuguesa em Macau, que acusa de discriminação. “Os jornais de Macau são todos pró… Eu não queria entrar com o termo racista, mas roça aquilo”, afirmou.

A título de exemplo, refere a forma como foi ignorado quando tentou recentemente, com o apoio de uma concessionária de jogo, que Cristiano Ronaldo escolhesse Macau como sede de um museu temporário – CR7 Life Museum -, que o número 7 da seleção nacional de futebol decidiu inaugurar em Hong Kong.

Outra ilustração da acusação, acrescentou, prende-se com o facto de falar “sempre em português na Assembleia Legislativa no período antes da ordem do dia (PAOD)” e “nenhum” meio de comunicação social publicar estas intervenções.

“Porque é que [o canal em português da Televisão de Macau] a TDM não põe na íntegra a minha intervenção de 3 minutos? Eu sou português e sinto-me triste pelos próprios conterrâneos me tratarem desta forma”, acrescentou.

Esta decisão editorial, segundo o deputado, está relacionada com questões partidárias portuguesas. “Eles pensam que eu sou partidário. Eu não tenho partido político. […] Dou-me bem com todos os partidos portugueses”, defendeu-se.

“Mas esses que estão cá e que têm um certo partidarismo, acham que eu sou de outro partido. Está errado. Portanto, há um problema político, partidarismo de Portugal, transportado para Macau”, acusou.

O Partido Socialista (PS) apresentou uma queixa junto da Comissão Nacional de Eleições (CNE) portuguesa, acusando a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), liderada por Coutinho, de interferir na votação por correio para as legislativas em 18 de maio último.

Coutinho manteve relações políticas com Portugal durante quase duas décadas, tendo sido conselheiro das Comunidades Portuguesas pelo círculo eleitoral China/Japão/Tailândia entre 2003 e 2021, ano em que renunciou ao cargo.

Mas, em 2015, foi mais longe, tendo sido candidato à Assembleia da República em Portugal, pelo partido Nós Cidadãos.

A iniciativa levantou questões constitucionais, não apenas em Portugal, e deu origem a uma determinação legal em Macau que passou a excluir expressamente a possibilidade do deputado ao Parlamento da região exercer função similar noutro país.

Confrontado agora com esta questão, Pereira Coutinho disse que “é o passado, não vale a pena comentar. Foi uma aventura, mas é já do passado”, acrescentou, rejeitando que essa “aventura” lhe tivesse retirado popularidade em Macau.

“De maneira nenhuma, eu sou popular em Macau pelo trabalho que desempenho”, disse.

José Pereira Coutinho diz ainda que admira André Ventura, considerando que o líder do Chega “é formidável”.

“Sabe que eu já recebi muitas mensagens de portugueses a dizer ‘você parece o André Ventura de Macau’. E depois comecei a reparar. Eu gosto de manifestar o meu interesse. Sou uma pessoa muito direta. Não conheço o homem. Mas pelos vídeos que ele fala… Devo dizer que é exatamente a mesma maneira como eu falo em chinês para a comunidade chinesa, exatamente a mesma coisa”.

“Se você me perguntar qual é o político de Portugal que se comporta mais ou menos como você em Macau: André Ventura”, diz.

Se para certas respostas José Pereira Coutinho não precisou de perguntas, já em relação a várias questões escolheu não se pronunciar. Uma delas foi a da exclusão em julho da candidatura da lista dirigida pelo deputado Ron Lam U Tou, considerado um dos deputados mais críticos do executivo na anterior legislatura, por não ser defensora da Lei Básica ou não ser fiel à RAEM”.

Colega de Coutinho durante quatro anos, o deputado português diz que Ron Lam é seu “amigo”. “Converso com ele, continuo a falar com ele”, acrescentou, escusando-se, porém, a comentar ou a fazer uma avaliação pessoal sobre a conduta do “amigo” evocada na desqualificação.

“Não, eu não faço comentários sobre essa situação. Eu olho para mim próprio […] porque não tenho tempo para isso. O meu tempo é todo, 100%, dedicado à população de Macau. Trabalho o tempo inteiro. Eu dou o exemplo. Por isso é que os meus colegas deputados que foram concorrentes não apanham a minha pedalada”, afirma.

“Eu sou o Ronaldo cá em Macau. E como deputado… a gente tem que furar e meter golos. E furamos e metemos golos. Isso é que é”, acrescentou.

Pereira Coutinho teve há uma semana 43 mil votos: “Olha, sabe que eu ainda não digeri bem esse resultado. Não consegui dormir bem. Só de contente que a pessoa está. Saltar de 18 mil para 43 mil [votos]. Eu devo dizer, esta semana não vou conseguir dormir”.

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