“A ignorância é atrevida, adora dar palpites e certezas”.
Ana Morais, adjunta do presidente da Câmara Municipal de Coimbra para a área da comunicação, acaba de vir “exigir direito de resposta” acerca de uma notícia divulgada, segunda-feira (15), por NDC, ignorando estar, antes, a exercer um direito que lhe é conferido pela Lei de Imprensa.
Ao tomar as dores de José Manuel Silva, a adjunta do prefeito diz que a CMC “não pode deixar de lamentar e repudiar que Notícias de Coimbra tenha publicado uma peça jornalística (notícia) sem previamente ouvir a autarquia (…)”. “Tal procedimento, inaceitável”, prossegue ela, “obriga à emissão de um desmentido posterior, com evidentes prejuízos para a imagem institucional da CMC”.
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Neste contexto, importa pôr os pontos nos ii e os traços nos tt.
A notícia que causou azia a José Manuel Silva consiste na reprodução de declarações de um munícipe conimbricense e empresário, Paulo Mendes.
A ‘legis artis’ do jornalismo não é a que o autarca apregoa. José Manuel Silva lida mal com a comunicação que ele não controla. Azarucho…
Possuidor de informação, proveniente de fonte identificada, cujo teor é indispensável para escrutínio do desempenho da CMC, cabe ao jornalista divulgá-la.
Um dos méritos do jornalismo consiste em confrontar os poderes instituídos com os pontos de vista dos cidadãos. A liberdade de expressão, que tanta azia causa a José Manuel Silva, foi exemplarmente defendida por Stuart Mill num opúsculo por ele publicado em meados do século XIX.
Acresce que, em simultâneo com a divulgação de declarações de Paulo Mendes, o autor da notícia comunicou a Ana Morais que redigiria outra se a autarquia entendesse tornar pública a resposta devida ao empresário.
A prática que Ana Morais censura, a mando de Silva, é inaceitável, aos olhos de ambos, porquanto defendem que o poder seja poupado ao confronto com os pontos de vista dos munícipes. Aguardar pela versão da CMC quando a notícia que desagrada ao prefeito possui fonte identificada – repito – seria um acto de vassalagem que José Manuel escusa de esperar de mim.
Antes de eu terminar, tenho de debruçar-me sobre a seguinte ‘pérola’ de Ana Morais: O tempo da publicação desta alegada queixa, que se demonstra facilmente que não tem qualquer fundamento, evidencia, afinal, lamentavelmente, a canhestra tentativa de uma clara interferência política artificial na campanha eleitoral.
Srª. drª., a queixa de Paulo Mendes não é alegada, é real. E, se consultar o dicionário, Ana Morais concluirá que “canhestra tentativa” não é uma coisa assim tão espúria. Canhestra é uma coisa feita com a mão esquerda ou da esquerda para a direita. Ora, eu redigi a notícia com ambas as mãos, sem prestar vassalagem a José Manuel Silva.
Por fim, Ana Morais, ponha a mão na consciência e veja quantos pedidos de esclarecimento feitos à CMC por mim, no último meio ano, ficaram sem resposta.
Se não encontrar a consciência, Ana Morais, ajudo-lhe a localizar a mão. Repare que ainda não me respondeu a perguntas, datadas de Abril e de Junho, cujo teor é o seguinte: Como vai a CMC pagar 67 500 euros à empresária Nirit Harel estando ela impossibilitada de emitir factura-recibo na medida em que, segundo julgo saber, não possui número português de identificação fiscal? Em que pé está a impugnação a cargo do Município do registo da marca Baixinova feito pela empresária? A avaliar pela informação reunida pelo requerente, Nirit Harel terá cometido abuso de posição negocial. Em que medida pode este episódio beliscar o dossiê envolvendo a autarquia e a empresária?
Saiba, drª. Ana Morais, que quando nos levamos demasiado a sério ficamos sem espaço para levar a sério as outras pessoas.
“Direito de Resposta – Notícia “Empresa de Coimbra pagou para ter licença de utilização, mas está há cinco anos à espera dela””
Empresa de Coimbra pagou para ter licença de utilização, mas está há cinco anos à espera dela
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