Região

Universidade de Coimbra revela perigo das acácias

Notícias de Coimbra | 19 minutos atrás em 16-09-2025

Um estudo liderado por uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC) permitiu concluir que atuar mais cedo sobre as pequenas populações de acácias, uma espécie invasora, é essencial para travar o seu avanço.

Raquel Juan Ovejero, investigadora do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) e da Universidade de Vigo, dirigiu a investigação, realizada na serra da Lousã, que analisou como a invasão da acácia-mimosa e da acácia-negra afeta o ambiente.

Numa nota enviada hoje à agência Lusa, a FCTUC referiu que a invasão por acácias tem consequências críticas para a estabilidade das florestas da faixa atlântica da Península Ibérica e, mesmo em níveis reduzidos de presença, o seu impacto é notável, tanto na vegetação como no solo.

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A investigação analisou de que forma a invasão das duas espécies afeta a estrutura da vegetação, a qualidade do solo e da folhagem (em termos de teor de carbono e azoto), e as comunidades de colêmbolos – pequenos invertebrados do solo fundamentais para o ciclo de nutrientes e para a decomposição da matéria orgânica.

Realizado na Serra da Lousã, uma região com paisagem florestal fragmentada, onde coexistem plantações de pinheiros e outras coníferas introduzidas, florestas nativas de carvalhos e castanheiros, bem como matos mediterrânicos, o estudo analisou também os efeitos em cascata que estas alterações podem provocar no funcionamento geral do ecossistema.

“À medida que aumenta a sua cobertura [da planta invasora], diminui de forma significativa a abundância de plantas herbáceas e a riqueza de espécies, o que se traduz numa perda clara de biodiversidade”, explicou a responsável do estudo.

Segundo Raquel Juan Ovejero, não só se detetou uma redução na relação carbono/azoto da folhagem e um aumento do carbono orgânico com a invasão das acácias – alterações que modificam a disponibilidade de nutrientes e os processos de decomposição -, como também se registaram impactos na fauna.

A investigadora destacou ainda que os diferentes grupos funcionais de colêmbolos responderam de forma desigual às modificações no solo e na folhagem, evidenciando “alterações subtis, mas relevantes na dinâmica dos ecossistemas”.

Os especialistas concluíram que “as intervenções precoces são mais eficazes, menos dispendiosas e reduzem o risco de consequências ecológicas graves”.

No entanto, a gestão requer acompanhamento contínuo, dado que ambas as espécies possuem bancos de sementes persistentes e podem rebrotar após perturbações.

A restauração de ‘habitats’ nativos foi apontada como “uma ferramenta fundamental para reforçar a estabilidade dos ecossistemas e prevenir novas invasões”.

De acordo com a investigação, as acácias australianas tornaram-se, pouco a pouco, num dos principais problemas ambientais da região mediterrânica: a sua capacidade de fixar azoto, formar massas densas e substituir a vegetação autóctone altera profundamente a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas.

“Em Portugal, a situação é especialmente grave. É o país mediterrânico com maior número de espécies de acácias invasoras, favorecidas pelo abandono rural e pela fragmentação florestal”, sublinhou Raquel Juan Ovejero.

A Galiza acompanha esta tendência, sofrendo também uma expansão acelerada destas espécies.

“Estes fatores aumentam a vulnerabilidade das florestas e matos, onde as acácias avançam rapidamente e provocam perdas de biodiversidade, alterações no solo e maiores dificuldades na gestão florestal”, afirmou.

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