Ano após ano, as ondas de calor estão a tornar-se mais intensas e mortais, e um novo estudo sugere que os seus efeitos vão além das mortes imediatas: podem também acelerar o envelhecimento do corpo.
A investigação, realizada em Taiwan, analisou dados de 25.000 adultos ao longo de 15 anos, entre 2008 e 2022, usando biomarcadores relacionados com a função hepática, inflamação e pressão arterial para calcular a idade biológica de cada pessoa. Os investigadores descobriram que cada ano de exposição a ondas de calor pode acrescentar cerca de duas semanas de envelhecimento ao organismo.
Segundo Paul J. Beggs, cientista de saúde ambiental da Universidade Macquarie, “houve uma mudança de paradigma na nossa compreensão da extensão e gravidade do impacto do calor na nossa saúde. O impacto pode ocorrer em qualquer idade e ser duradouro”.
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O estudo mostrou que o efeito foi mais pronunciado em trabalhadores ao ar livre, como agricultores e operários da construção civil, chegando a quase um mês de envelhecimento extra para quem esteve mais exposto às ondas de calor. Idosos, crianças e pessoas com doenças crónicas também apresentaram maior vulnerabilidade, assim como moradores de zonas rurais ou comunidades sem acesso a ar condicionado.
As ondas de calor foram definidas de duas formas: relativamente, como dias consecutivos mais quentes que o percentil 92,5 local, e absolutamente, como três dias acima de 36 °C ou qualquer dia acima de 38 °C. O estudo concluiu que quanto maior a exposição cumulativa, maior a aceleração do envelhecimento biológico.
Os mecanismos sugeridos incluem encurtamento dos telómeros, danos oxidativos no DNA e alterações nas mitocôndrias, afetando assim todo o organismo. Apesar de alguma adaptação ao longo do tempo, possivelmente devido ao uso de ar condicionado ou à aclimatação natural, os investigadores alertam que os efeitos das ondas de calor continuarão a ser uma preocupação de saúde pública enquanto o clima se mantiver quente.
Beggs sublinha ainda: “Reduzir a exposição, seja em casa, no trabalho ou nas cidades, é um investimento importante em saúde pública com dividendos para toda a vida”.
O estudo foi publicado na revista Nature, reforçando a urgência de medidas para mitigar os efeitos das alterações climáticas e proteger a saúde da população.
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