O aquecimento global e a ação humana estão a alterar a circulação das massas de água nos oceanos, podendo levar, no futuro, a uma nova era glaciar na Europa, alerta Miguel Santos, biólogo e investigador principal do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Em declarações à agência Lusa, Miguel Santos explicou que as correntes oceânicas, formadas nos polos e influenciadas pela temperatura e salinidade da água, são fundamentais para a regulação do clima global. Trata-se da chamada “circulação termoalina”, um movimento em que as águas mais frias e salgadas afundam, enquanto as mais quentes e doces sobem.
O investigador destacou que o degelo dos glaciares e a diminuição do gelo marinho podem enfraquecer essa circulação, pois o aumento da água doce impede o afundamento das massas de água e reduz o transporte de calor para a Europa. A corrente do Golfo, responsável por invernos mais suaves na Europa, pode perder intensidade, levando a períodos de frio extremo e até a glaciações em algumas regiões.
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Estudos recentes indicam que a Atlantic Meridional Overturning Circulation (AMOC), corrente que regula o clima europeu, está a enfraquecer. Um estudo do Real Instituto Meteorológico dos Países Baixos e da Universidade de Utrecht sugere que, se a corrente colapsar, as temperaturas em Bruxelas podem chegar aos 21°C negativos.
Apesar da gravidade do cenário, Miguel Santos afirma que é difícil prever exatamente quando ou se tal poderá ocorrer. “Há quem diga que essa circulação pode parar, eu não acredito nisso. O que se acredita é que está a diminuir de intensidade, e isso já provoca alterações climáticas significativas”, afirmou.
O especialista alertou também para a sobrepesca, a poluição por plásticos e o mau tratamento dos oceanos, destacando que grande parte da população desconhece o que se passa no mar. “O mar sempre foi visto como um sítio para onde se podia mandar lixo, porque não se vê. Vai aguentar-se. Nós é que não nos vamos aguentar. E não estamos a perceber isso”, frisou.
Miguel Santos defende a divulgação da oceanografia junto da população e dos jovens, alertando que, apesar da importância dos oceanos para a vida no planeta, ainda existem poucos especialistas e recursos insuficientes para estudar adequadamente o mar aberto.
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