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A escrita secreta que volta a falar

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 7 horas atrás em 25-08-2025

Imagem: DR

Há cerca de quatro séculos, mulheres chinesas inventaram o nüshu – literalmente “escrita das mulheres” – para comunicar em segredo numa época em que lhes era negado o acesso à educação formal. Hoje, a tradição renasce entre jovens, impulsionada pelas redes sociais.

Numa oficina na província de Hunan, no centro da China, uma professora traça cuidadosamente com pincel os caracteres dessa escrita secreta. Criado há aproximadamente 400 anos, o nüshu permitia às mulheres trocar cartas, canções e bordados, transmitindo mensagens de mãe para filha em um contexto social dominado por homens.

Para Pan Shengwen, estudante de 21 anos, a escrita é um espaço seguro. “É como uma espécie de santuário para nós. Podemos exprimir os nossos pensamentos, confiar-nos entre irmãs, falar sobre tudo”, afirma.

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Diferente dos sinogramas tradicionais, as palavras em nüshu são fonéticas, mais finas e com formas que lembram folhas de árvore. “Quando escrevemos, a nossa respiração deve ser pausada, para que o pincel se mantenha estável”, explica Pan.

Nas redes sociais chinesas, a escrita também ganha força. Na plataforma Xiaohongshu, semelhante ao Instagram, a hashtag #nushu já ultrapassa 72 milhões de visualizações, com jovens mulheres partilhando tatuagens e outros trabalhos artísticos inspirados na antiga escrita, pode ler-se no ZAP.

Para Zhao Liming, professora da Universidade Tsinghua e pesquisadora do nüshu há quatro décadas, a escrita reflete a vida das mulheres de Jiangyong, um condado rural de Hunan. “As obras dessas mulheres eram um grito contra a injustiça”, explica.

Embora o nüshu seja lido num dialeto local, o que dificulta seu aprendizado por habitantes de outras regiões, sua elegância atrai estudantes de arte. A professora He Yuejuan, natural de Jiangyong e uma das 12 “herdeiras” oficiais do nüshu, utiliza a escrita em joias e xailes vendidos em sua galeria.

Cerca de 100 estudantes participaram de uma oficina de uma semana organizada pelas autoridades locais. Zou Kexin, jovem de Sichuan, ouviu falar do nüshu nas redes sociais e quis experimentar pessoalmente.

Entre os participantes, está Tao Yuxi, estudante de animação de 23 anos e um dos poucos homens na oficina. “Embora tenha sido criado para mulheres, o nüshu faz parte do património cultural nacional. Todos devíamos lutar para preservá-lo, mulheres e homens”, afirma.

O renascimento do nüshu não apenas preserva uma tradição antiga, mas também reforça a identidade feminina e o valor da cultura popular chinesa, conectando gerações por meio da escrita e da arte.

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