Política

Programas de campanhas eleitorais evitam medidas objetivas sobre incêndios

Notícias de Coimbra com Lusa | 9 horas atrás em 22-08-2025

 O especialista em proteção civil Duarte Caldeira considerou que a partir de 2017 houve uma valorização de medidas relativas aos incêndios florestais nos programas das campanhas eleitorais, mas ainda existe uma opção por compromissos genéricos em vez de objetivos.

“De uma forma geral, apesar de a partir de 2017 haver essa valorização, há uma opção muito clara por princípios genéricos, e acabam por não se estabelecer compromissos claros de medidas objetivas, que sejam mensuráveis”, afirmou Duarte Caldeira, em declarações à Lusa.

O presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Proteção Civil (CEIPC), estabelecido em Mafra, acrescentou que “medidas concretas, objetivas, que sejam mensuráveis para os cidadãos” são “um deserto”, mas “é um problema que não é só das autarquias, é do exercício da ação política no país”.

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“Os partidos políticos têm muito por hábito fugir o mais possível de medidas que sejam mensuráveis, logo suscetíveis de avaliação. Portanto, há uma abordagem por natureza genérica por autodefesa, ou seja, é muito difícil chegar ao fim do mandato [e avaliar quando alguém diz apenas] ‘melhorar a qualidade de vida das populações’”, descreveu.

“Melhorar a qualidade de vida dos cidadãos é uma coisa genérica, que pode ser tudo e pode não ser nada, não é? E, portanto, essa ausência de quantificação de medidas é uma característica, de uma forma geral, dos programas eleitorais, porque assim também se defendem”, reforçou Duarte Caldeira, considerando que “representa um desrespeito, quer pelas suas responsabilidades, quer pelos cidadãos que votam nas respetivas candidaturas”.

Em relação à prevenção de incêndios florestais, o antigo presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses destacou a redução da biomassa junto ao edificado, mas notou as dificuldades económicas de uma parte da população e os proprietários de imóveis emigrantes, que regressam ao país no período de férias, em agosto, “quando é proibido fazer este tipo de trabalhos”.

Quanto à eventual ocorrência de mais fogos em anos de eleições, Duarte Caldeira admitiu que “durante muitos anos houve essa perceção”, mas ao verificar-se “que há incêndios florestais graves em anos eleitorais e em anos não eleitorais, é difícil estabelecer uma relação causa e efeito”.

“Desde o ano 2000, o que se verifica é que é verdade que há anos eleitorais onde é coincidente a existência de uma maior área ardida, maior número de incêndios, mas também é verdade que há outros anos de igual constatação e que não tem nada a ver com o ato eleitoral”, frisou.

Este ano, prosseguiu, quando se está “além do meio de agosto, ainda com setembro pela frente”, corre-se “o elevado risco, de não ficar muito longe dos resultados de 2017, não em relação a vidas humanas, porque esse é o valor maior, mas relativamente aos danos provocados, quer no ambiente, quer no espaço florestal, quer no edificado, quer sobretudo em relação ao espaço agroflorestal”.

“A menos que tenhamos, tal como se verificou o ano passado, [um] setembro atípico e que, portanto, fique circunscrito aos resultados de agosto”, vincou.

Para o dirigente do CEIPC, o país já está “num ano grave”. Sem contar com os danos em habitações, culturas ou animais, já foram ultrapassados os 200 mil hectares de floresta ardida, o que coloca Portugal “a caminho de um ano” que poderá ficar atrás de 2017 se não se registar “um setembro mais complicado”.

Sobre o que mudou desde o trágico 2017 – ano de com mais de 100 mortos nos incêndios de junho e outubro -, o especialista apontou como “mais-valia incontestável” a “capacidade de antecipar a deslocação de população dos locais de risco, não esperando pela aproximação do incêndio”, com uma “articulação entre as forças de segurança e os municípios” absolutamente “exemplar”.

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