A aldeia de Teixeira de Baixo, no concelho de Seia, viveu dias de verdadeiro pânico quando as chamas do incêndio de Piódão chegaram às portas das habitações.
O cenário, agora coberto de cinzas, é descrito pelos habitantes como um autêntico “inferno na terra”.
“Foi horrível, horrível, horrível. Não há imagem que descreva aquilo que vivemos. Foi um dia de terror para todos nós”, conta Maria Goretti, emigrada em Londres há 32 anos, que se encontrava de férias na terra do marido, Carlos Manuel.
PUBLICIDADE
O casal, tal como muitos emigrantes que regressam no verão, esperava dias de descanso em família. Mas em vez disso, encontrou-se cercado pelo fogo. “Estávamos confinados em casa, só se ouviam gritos e o fumo entrava por todo o lado. O ar era irrespirável”, recorda Carlos Manuel, ainda visivelmente abalado.
“Parecia que levava tudo”
A aflição estendeu-se a todos os moradores. Maria da Conceição, de 81 anos, recorda o desespero de ver as chamas aproximarem-se da sua casa:
“Eu disse: será que é desta vez que a minha casa se vai embora? Só havia chamas, de um lado e do outro. E o meu marido, numa cadeira de rodas, sem podermos sair… Foi um inferno em vida.”
As perdas foram enormes. “Tudo ardeu. Oliveiras, pinheiros, feijão, até os tubos da rega. Ficámos sem nada”, lamenta.
O desespero foi acompanhado pelo medo constante de perder não só os bens, mas também a própria vida. “O barulho das chamas parecia que levava tudo. Foi um verdadeiro milagre as casas não terem ardido.”
A filha de Maria da Conceição, Irene, confessa que ainda lhe faltam palavras para descrever a dimensão da tragédia: “Era um inferno na terra. Não há adjetivos suficientes para aquilo que vimos. Pensei: ficamos aqui todos.”
Hoje, quem chega a Teixeira de Baixo encontra um contraste doloroso. Onde antes o verde dominava a paisagem serrana, resta apenas o castanho das cinzas. Casas intactas cercadas por terras queimadas testemunham um milagre, mas também um trauma coletivo que ficará gravado na memória de todos.
PUBLICIDADE