Saúde

Aborto aumenta o risco de cancro da mama?

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 5 horas atrás em 21-08-2025

Nos Estados Unidos, a influencer Bethany Cameron, com 1,5 milhões de seguidores no Instagram, questionou no seu podcast Digest This: “Fazer um aborto aumenta a probabilidade de desenvolver cancro da mama?”.

O convidado Seth Gruber, ativista anti-aborto e fundador da associação The White Roses Resistance, respondeu de forma afirmativa, reiterando uma alegação comum em círculos pró-vida: que a interrupção voluntária da gravidez (IVG) poderia deixar o tecido mamário mais vulnerável a tumores.

Gruber, licenciado em Estudos Religiosos, argumenta que durante a gravidez o tecido mamário se diferencia para a lactação e que a interrupção desse processo poderia aumentar o risco de cancro. Ele também questiona estudos científicos que não encontram relação entre IVG e a doença, alegando que alguns possuem agenda “pró-escolha” e defendendo a validade de pesquisas antigas dos anos 1990, já amplamente refutadas.

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No entanto, a evidência científica rigorosa não corrobora estas afirmações. Hélder Ferreira, professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e coordenador da unidade de Endoscopia Ginecológica e Endometriose do Hospital de Santo António, explica que “não há evidência científica de qualidade que comprove que a interrupção voluntária da gravidez aumente o risco de cancro da mama”.

Estudos de grande escala, incluindo coortes prospectivas com centenas de milhares de mulheres na Dinamarca, Estados Unidos e Europa, indicam que o risco de cancro da mama é equivalente entre mulheres com e sem histórico de IVG. Uma análise internacional publicada em 2004 na The Lancet, com dados de 83 mil mulheres, concluiu que nem abortos espontâneos nem induzidos contribuem para aumento do risco da doença. Revisões mais recentes, incluindo meta-análises de 2018 e 2020, confirmam que não há diferença significativa, mesmo quando se avaliam subgrupos específicos.

O especialista ressalta que, embora exista uma plausibilidade teórica de que uma gravidez interrompida possa afetar temporariamente o tecido mamário, “a interrupção da gravidez não deixa um legado fisiopatológico identificável nas mamas” e não altera significativamente o risco de cancro. Fatores que influenciam o risco incluem idade ao primeiro parto e número de filhos, não a ocorrência de IVG.

Hélder Ferreira também alerta para limitações e vieses em estudos que sugerem a ligação, como erros de recolha de dados, viés de publicação e confusão por fatores reprodutivos. Estudos mais rigorosos e recentes, baseados em coortes prospectivas, são consistentes ao mostrar que não há associação significativa entre interrupção da gravidez e risco de cancro da mama.

Organismos internacionais, incluindo o National Cancer Institute e o American College of Obstetricians and Gynecologists, confirmam que a IVG não aumenta o risco de cancro da mama, reforçando o consenso científico sobre o tema.

Por isso, segundo a avaliação do Polígrafo da SIC, é falso.

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