Cerca de 60% dos associados da cooperativa Lousãmel, entre os quais vários produtores do mel da Serra da Lousã, foram afetados pelos incêndios, sobretudo pela falta de alimento para as abelhas.
O levantamento preliminar na área de intervenção da Lousãmel estima que perto de mil colmeias já terão ardido com os incêndios que afetam o Centro e Norte do país, mas a falta de alimento deverá afetar cerca de 60% dos associados desta Cooperativa que, apesar de se focar na Serra da Lousã, atua de norte a sul do país, disse à agência Lusa a diretora executiva da entidade, Ana Paula Sançana.
“O problema alimentar é muito substancial, porque as abelhas ficaram sem nada para comer. Em termos de impacto da produção para este ano acabou por não ser tão negativo, porque a maior parte dos apicultores já tinha feito a extração do mel, mas infelizmente, os próximos anos, serão um filme em ‘reprise’ [repetição] de entrada em novo ciclo negativo”, afirmou.
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Para Ana Paula Sançana, o impacto na produção irá sentir-se nos próximos anos, dando nota de que, no caso do mel da Serra da Lousã (de origem protegida), será difícil assegurar as suas características, face à flora que ardeu.
“Estamos numa altura muito complicada para as abelhas, que após ser tirado o mel, estão em profundo stress. Temos a questão da vespa asiática, a varroose que é a doença que afeta as abelhas provocada por um ácaro no seu ponto alto, e, agora com este fator [dos incêndios], temos de ter muita atenção aos próximos meses”, explicou.
Para a diretora executiva da Lousãmel, é necessária uma intervenção musculada por parte do Governo de apoio aos apicultores, que são “um pilar daquilo que é a sustentabilidade e uma atividade que presta um serviço ecossistémico” e que têm sido afetados por incêndios que se repetem em ciclos cada vez mais curtos.
“Se não houver um apoio e um sinal muito claro do Governo, tenho a certeza de que vai haver pessoas que efetivamente vão desistir”, notou.
A cooperativa tem registo de associados afetados não apenas na Lousã, mas também na Pampilhosa da Serra, Arganil, Oliveira do Hospital, Mêda ou Trancoso, acreditando-se que, com a extensão da área ardida, também poderá haver uma pressão e sobrepopulação de abelhas em zonas intactas no futuro.
Para Ana Paula Sançana, o número de colmeias ardidas é menor face à aprendizagem que os apicultores retiraram dos incêndios de 2017, com muitos a passarem a manter as colmeias mais longe do chão.
Portugal continental tem sido afetado por múltiplos incêndios rurais de grande dimensão desde julho, sobretudo nas regiões Norte e Centro.
Os fogos provocaram três mortos, incluindo um bombeiro, e vários feridos, alguns com gravidade, e destruíram total ou parcialmente casas de primeira e segunda habitação, bem como explorações agrícolas e pecuárias e área florestal.
Segundo dados oficiais provisórios, até 20 de agosto arderam mais de 222 mil hectares no país, ultrapassando a área ardida em todo o ano de 2024.
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