A Ordem dos Médicos (OM) alertou hoje que as guerras, como na Ucrânia e Gaza, têm desafiado os limites éticos e humanitários com a “crescente violação das normas interacionais”, deixando “marcas profundas na saúde coletiva”.
No trabalho “A Medicina pela Paz: Imperativo Ético e Profissional”, publicado na Ata Médica Portuguesa e subscrito por 40 sociedades médicas e associações ligadas à saúde, o bastonário da OM lembra que os “profissionais de saúde têm sido reiteradamente alvos diretos da violência bélica”.
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“Ataques indiscriminados resultaram em milhares de mortes, incluindo crianças, idosos e profissionais de saúde, com danos deliberados a hospitais e ambulâncias”, salienta Carlos Cortes.
O responsável explicou que “o conflito desorganizou profundamente o sistema de saúde, comprometendo a vacinação, o tratamento de doenças crónicas e a saúde mental, com consequências devastadoras para várias gerações”.
“Estes ataques configuram crimes de guerra inequívocos e exigem uma resposta firme da comunidade internacional. Os profissionais de saúde, orientados por juramentos éticos e humanistas, desempenham um papel crucial como guardiões da dignidade humana, independentemente das partes envolvidas nos conflitos, devendo ser protegidos e nunca alvos militares”, realça.
Para Carlos Cortes, que declarou não ter conflitos de interesse, a neutralidade médica não deve ser interpretada como indiferença perante as atrocidades, mas como dever ético e moral de denunciar abusos e exigir responsabilização pelas ações praticadas.
“Os efeitos das guerras transcendem os combates imediatos. (…) Cada conflito armado deixa marcas profundas na saúde coletiva, especialmente nestas populações fragilizadas, prolongando os danos por décadas após o término dos confrontos”, salienta.
Defendendo o fim dos conflitos armados, o bastonário da OM afirmou que o acesso universal deve ser um direito humano fundamental e que a solidariedade médica internacional e o acolhimento adequado, baseado em princípios éticos de justiça e equidade, são essenciais para proteger os direitos e a saúde dos refugiados.
“Essas entidades médicas portuguesas reiteram a importância urgente de um cessar-fogo imediato e da proteção integral aos profissionais de saúde nas zonas de conflito, bem como do compromisso inequívoco com a neutralidade médica, a preservação da vida humana e o apoio médico efetivo aos refugiados e deslocados. É essencial que os médicos de Portugal e do mundo reforcem sua voz ativa e influente pela paz global”, sublinha.
Carlos Cortes sublinha que os médicos “detêm autoridade moral e profissional para combater a violência, assegurar a proteção médica e pressionar por políticas públicas que priorizem a vida e a dignidade humana acima de quaisquer interesses bélicos ou políticos”, recordando que “o primeiro dever da medicina é preservar a vida e aliviar o sofrimento humano de todas as pessoas, sem discriminação ou exceção”.
“Os médicos portugueses assumem, neste contexto, o firme compromisso ético e profissional de defender a paz, a justiça e a dignidade humana em todas as circunstâncias”, acrescentou.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022, numa nova fase da guerra que começou em 2014, com a anexação da península ucraniana da Crimeia pelos russos, tendo provocado dezenas de milhares de mortos de ambos os lados.
Já guerra em Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo islamita Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel.
A retaliação de Israel já provocou mais de 60 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
Israel também impôs um bloqueio à entrega de ajuda humanitária no enclave, onde mais de 140 pessoas já morreram de desnutrição e fome, a maioria crianças.
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