O Museu Nacional de Machado de Castro (MNMC), em Coimbra, inaugurou ontem, sexta-feira, 11 de julho, a aguardada exposição “Isabel, Rainha e Santa de Portugal”.
A mostra, que abriu ao público às 17:30, celebra a multifacetada figura de Isabel de Aragão (1270–1336), assinalando duas efemérides cruciais: os 400 anos da sua canonização (1625) e os 700 anos da sua
célebre peregrinação a Santiago de Compostela (1325).
Como guardião de um inestimável espólio legado pela própria Isabel à cidade, o MNMC assume um papel central nestas comemorações, oferecendo uma leitura densa do legado político, espiritual e, inegavelmente, artístico da Rainha Santa. Patente até 26 de outubro de 2025, a exposição estrutura-se em cinco núcleos temáticos meticulosamente concebidos, traçando um percurso envolvente entre a construção iconográfica da imagem da rainha, a materialidade do seu culto e o profundo impacto da sua ação mecenática e devocional.
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O primeiro núcleo, “Imagem de uma rainha”, propõe uma análise detalhada da diversidade iconográfica da figura de Isabel de Aragão ao longo dos séculos, explorando como a sua representação foi construída e consolidada, com particular destaque para a imagem criada pelo notável escultor Teixeira Lopes no século XX, que viria a tornar-se emblemática na Confraria da Rainha Santa Isabel.
Segue-se um segundo núcleo, “Herança da rainha”, centrado na excecional coleção de ourivesaria do museu, conhecida como o “Tesouro da Rainha Santa”, composta por quatro peças do acervo do MNMC, a que se junta o emblemático bordão de peregrina da Confraria da Rainha Santa Isabel; estas obras constituem testemunhos de excecional valor artístico e simbólico, revelando intrínseca relação entre fé e arte na sua época.
O terceiro núcleo, “Mecenato e identidade”, incide sobre a atuação do Mestre Pero, figura-chave na escultura gótica portuguesa, cuja responsabilidade na criação do túmulo da Rainha Santa em 1326
representa uma viragem crucial na escultura em pedra em Coimbra, assinalando um processo de modernização e sofisticação formal impulsionado pela presença de Isabel na cidade.
No quarto núcleo, “Beatificação e Canonização”, o visitante é conduzido através do complexo processo de beatificação e canonização da Rainha Santa, com especial foco na documentação que testemunha o crescente reconhecimento do seu culto; entre as peças mais relevantes destaca-se a bula papal de canonização emitida por D. João V, documento fundamental que oficializa a sua veneração. Por fim, o quinto núcleo, “Culto e devoção”, aborda a capilaridade do culto popular que se desenvolveu em torno da figura de Isabel de Aragão, apresentando uma fascinante coleção de relíquias, ex-votos e objetos devocionais que ilustram a continuidade e ubiquidade da sua veneração ao longo dos séculos, tanto em Coimbra como no panorama religioso nacional.



















A exposição reúne um total de 57 peças de elevado valor histórico-artístico, provenientes de uma vasta rede de instituições públicas e coleções privadas, entre os prestigiados colaboradores destacando-se a Confraria da Rainha Santa Isabel — entidade parceira fundamental na organização da mostra —, o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu Nacional Soares dos Reis, o Museu Nacional do Azulejo, o Museu Nacional do Teatro e da Dança, a Direção de Educação do Exército, o Município de Odivelas, a
Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (Arquivo Nacional da Torre do Tombo) e a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
Com curadoria científica de Sandra Costa Saldanha, Fernanda Alves e Pedro Ferrão, a preparação da exposição foi um trabalho de meses que culminou na sua montagem intensiva em julho, a tempo de coincidir com o início das celebrações oficiais. O envolvimento da comunidade, incluindo o apoio de voluntários e o patrocínio da Lusitânia Seguros, foi essencial para a concretização deste ambicioso projeto.
A anteceder a sessão de inauguração, o MNMC acolheu, às 17:00, um emotivo recital de piano pela artista Klaudia van Eenbergen, que apresentou temas originais do seu aclamado álbum Shades of Time — gravado no próprio museu — e interpretações de obras do compositor francês Yann Tiersen; este momento musical não só encantou os presentes, mas também sublinhou a vitalidade do espaço museológico como um palco dinâmico para o cruzamento entre arte, história e contemporaneidade, reafirmando o MNMC como um polo cultural de referência.
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