Saúde

Medicamentos “milagrosos” para emagrecer aumentam risco de problemas graves no organismo

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 18 minutos atrás em 11-07-2025

Imagem: depositphotos.com

Nos últimos anos, medicamentos para perda de peso como Ozempic e Wegovy ganharam enorme popularidade, acabando por gerar uma verdadeira revolução na forma de tratar diabetes, obesidade e até dependência química.

Conhecidos como agonistas do receptor GLP-1, estes fármacos têm sido apontados como “medicamentos milagrosos”, com mais de 2 milhões de utilizadores nos Estados Unidos e um crescimento de 13% nas prescrições em apenas três meses.

No entanto, à medida que a adesão a estes medicamentos aumenta, também crescem as preocupações sobre os seus efeitos colaterais. Um estudo, liderado por cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington e do Sistema de Saúde de St. Louis, analisou dados de mais de dois milhões de pacientes, criando um verdadeiro “atlas” dos impactos do GLP-1 no corpo humano.

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Originalmente desenvolvidos para estimular a libertação de insulina em doentes com diabetes tipo 2, os medicamentos como a semaglutida (princípio ativo do Ozempic e Wegovy) tornaram-se famosos pela capacidade de promover perda de peso significativa, reduzindo o apetite e retardando a digestão.

Para além disso, o estudo revelou associações positivas com a diminuição do risco de 42 doenças, incluindo ataques cardíacos, derrames, insuficiência renal e até Alzheimer. Também foi observado um impacto na redução de transtornos por uso de substâncias e até no risco de tentativas de suicídio.

“O GLP-1 atua em múltiplos sistemas do corpo e do cérebro, o que explica os benefícios para várias condições além do controlo do açúcar no sangue ou do peso”, explicou Ziyad Al-Aly, autor do estudo.

Contudo, o medicamento não está isento de riscos. Entre os efeitos adversos mais comuns estão náuseas, vómitos, refluxo ácido e dor abdominal. Mais graves são as taxas aumentadas de pancreatite — uma inflamação potencialmente fatal do pâncreas —, pedras nos rins e inflamação renal. Outros problemas como alterações visuais, artrite, tendinite, distúrbios do sono e dores de cabeça também foram registados.

Estes efeitos colaterais, publicados na Nature Medicine, já eram conhecidos de forma isolada, mas esta é a primeira avaliação tão abrangente do impacto dos agonistas GLP-1. No Reino Unido, as autoridades associaram pelo menos dez mortes à pancreatite relacionada ao uso destes medicamentos.

Apesar dos riscos, os especialistas não defendem restrições drásticas. “Os benefícios, quando o medicamento é usado corretamente, são muito superiores aos riscos”, afirma Karolina Skibicka, neuroendocrinologista da Universidade de Calgary.

Porém, ressalva a investigadora, são necessários mais estudos, especialmente em mulheres, que estão sub-representadas na investigação até ao momento.

Também se destaca a necessidade de mais dados sobre o uso do medicamento para obesidade, já que as dosagens e duração do tratamento tendem a ser superiores às dos ensaios clínicos originais.

Com um em cada oito adultos nos EUA a terem utilizado um medicamento GLP-1 pelo menos uma vez, a sua popularidade global não dá sinais de abrandar. O novo “atlas” de benefícios e riscos serve para guiar prescrições mais seguras e para aprofundar o conhecimento sobre o impacto biológico destes medicamentos.

Afinal, uma única molécula que pode influenciar o risco de Alzheimer, dependência química e doenças cardiovasculares ao mesmo tempo é, sem dúvida, um fenómeno que merece toda a atenção.

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