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Terra está a girar mais depressa e ninguém sabe porquê (e o tempo pode estar em risco)

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 7 horas atrás em 09-07-2025

Imagem: depositphotos.com

Este verão, em três datas específicas, 9 de julho, 22 e 5 de agosto, a Terra vai girar ligeiramente mais depressa do que o habitual.

A diferença é quase imperceptível para os nossos sentidos, mas altamente significativa para a ciência: cada um destes dias será cerca de 1,5 milissegundos mais curto.

Embora não notemos no dia-a-dia, trata-se de um fenómeno com implicações sérias em sistemas que dependem de cronometragem ultra precisa, como GPS, satélites de comunicação, redes eléctricas e transações financeiras. Esta aceleração repentina na rotação da Terra é um verdadeiro enigma para os especialistas.

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Historicamente, a Terra tem desacelerado a sua rotação de forma gradual. Há mil milhões de anos, um dia tinha cerca de 19 horas. No tempo dos dinossauros, durava 23. Contudo, desde 2020, os relógios atómicos — dispositivos de altíssima precisão usados para medir a rotação da Terra — têm registado uma tendência oposta: uma aceleração inesperada, pode ler-se no ZME Science.

O dia mais curto já registado ocorreu a 5 de julho de 2024, com a Terra a completar a sua rotação 1,66 milissegundos mais rápido do que os 86.400 segundos que definem um dia padrão.

E as próximas datas — incluindo esta terça-feira, 9 de julho — poderão bater novos recordes.

Se a Terra continuar a acelerar, poderá ser necessário um ajuste sem precedentes: a remoção de um segundo ao Tempo Universal Coordenado (UTC). Até hoje, os cientistas apenas adicionaram segundos intercalares para compensar a desaceleração natural. Um “segundo intercalar negativo” nunca foi implementado, mas poderá tornar-se necessário — e isso colocaria vários sistemas informáticos à prova.

Os cientistas ainda não chegaram a um consenso. A rotação da Terra pode ser influenciada por diversos fatores: movimentos oceânicos e ventos de alta altitude, sismos, como o de 2011 no Japão, derretimento dos glaciares e perda de águas subterrâneas, ambos agravados pelas alterações climáticas e mudanças na distribuição da massa, como o crescimento das folhas nas árvores.

Contudo, nenhum destes factores explica de forma clara a tendência de aceleração contínua iniciada em 2020.

Há quem aponte o dedo à Lua. A sua órbita oscila em relação ao equador terrestre, e, em datas como as agora previstas, pode influenciar a velocidade de rotação do planeta. Mas esse fenómeno é bem conhecido e não justifica o comportamento anómalo e persistente dos últimos anos.

Embora estas variações de milissegundos possam parecer insignificantes, acumulam-se com o tempo. A precisão do tempo é essencial para o bom funcionamento de infraestruturas tecnológicas e serviços globais.

Como disse o geofísico Richard Holme, “o tempo é implacável”. E a Terra, aparentemente, menos previsível do que julgávamos.

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