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Café Capri em Coimbra faz 50 anos de poesia e encontros que não cabem nos livros

Angel Machado | 5 horas atrás em 07-07-2025

O Capri nasceu nos anos 70, do século passado, com sonhos de liberdade. Foi fundado por um moçambicano, o senhor Tomás, como era conhecido. Mais tarde foi adquirido por Celso Manuel Ramos, atual proprietário. O café Capri é uma referência na Rua Capitão Luís Gonzaga, n.º 13, nos Olivais, em Coimbra.

Comemora meio século de história como espaço de encontro de estudantes, professores, artistas, políticos, boémios e sonhadores. “Já passou muita gente importante por aqui”, afirma o senhor Celso.

As paredes parecem uma galeria: têm quadros de artistas plásticos de Coimbra, guitarras, vinis, CDs, volantes de automóvel, câmeras fotográficas, fitas VHS, entre outros pertences curiosos. A relação com a literatura também tem lugar na decoração, num espaço dedicado aos livros, uma espécie de biblioteca para quem gosta de ler.

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No Capri tudo simboliza tempo: o passado que resiste e o presente das tertúlias. Há lugares que são universais. O Café Capri é um desses sítios onde o tempo anda noutra cadência. São cinquenta anos a servir café com mãos habituadas à pressa e à utopia dos poetas.

Ao longo de décadas não perdeu a alma, modernizou-se discretamente, manteve os sabores, o bom atendimento e a atmosfera familiar. Muitos dos clientes de hoje vêm com filhos e netos, repetindo um ritual que atravessa gerações. O cheiro do café continua inconfundível e segue a trilha sonora das manhãs coimbrãs.

O Capri é uma estação sem horários, foi a casa de gerações que ali viveram os seus primeiros amores, as suas primeiras leituras sérias e, também, algumas derrotas. Em cada mesa há uma biografia anónima, o palco de alguma cena íntima ou grandiosa. Histórias de debates acalorados sobre literatura, filosofia ou política; aniversários improvisados, reencontros inesperados e até despedidas silenciosas.

Quantas cidades podem orgulhar-se de um café que resiste ao tempo como um velho amigo que nunca muda de lugar? O Capri não é apenas um estabelecimento – é um porto de abrigo para madrugadores com olhos pesados. Ali lê-se o jornal, discute-se política com estranhos e bebe-se café para meter conversa.

É com emoção que o senhor Celso lembra o passado e as amizades inesquecíveis: “Fiz muitos amigos, na época não havia telemóveis, conversávamos mais”. É possível imaginar que, em certas tardes de outono, ainda se escuta a voz de um velho professor citando Camões a uma jovem distraída. Há também a lembrança de um sorriso tímido de quem dizia “volto já” e nunca mais voltou.

Com os olhos marejados de lágrimas, o senhor Celso sabe que é testemunha silenciosa de histórias que nunca chegarão aos livros, mas que ajudaram Coimbra a escrever a sua história. É frequente, estudantes que ali entraram com vinte anos, voltarem com filhos, às vezes, com netos, estupefactos porque tudo à volta mudou, menos o Capri.

Meio século depois, este “santuário do encontro” celebra as presenças: os que entraram apenas uma vez, os que se recusaram a sair; os habitués e os invisíveis. O cheiro a café e os jornais sobre o tampo das mesas em mármore convida à leitura.

O segredo de ser moderno, talvez seja resistir às cápsulas de café, perpetuar o seu aroma e transformá-lo em saudade.

O horário de funcionamento: diariamente das 7:30 às 00:00 e às vezes, 02:00.

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