O cancro do pâncreas é uma das doenças mais letais conhecidas pela medicina, devido à sua deteção difícil, rápida progressão e resistência à maioria dos tratamentos. Com uma taxa de sobrevivência a cinco anos de apenas 13%, o adenocarcinoma ductal pancreático (ADP) representa um dos maiores desafios oncológicos.
Contudo, uma equipa de investigadores da Case Western Reserve University e da Cleveland Clinic está a desenvolver uma nova abordagem que poderá mudar este cenário: uma vacina baseada em nanopartículas lipídicas — minúsculas partículas de gordura que funcionam como veículos para transportar medicamentos pelo organismo.
O engenheiro biomédico Zheng-Rong (ZR) Lu, com mais de 20 anos de experiência em nanopartículas lipídicas, lidera este projeto. Estas partículas são ideais para transporte de fármacos, pois são naturalmente compatíveis com os tecidos humanos, minimizando danos. Agora, Zheng-Rong Lu e a sua equipa aplicam esta tecnologia para criar uma vacina que ensina o sistema imunitário a reconhecer e atacar as células cancerígenas pancreáticas.
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Em estudos pré-clínicos realizados em modelos animais, a vacina conseguiu eliminar completamente os tumores em mais de metade dos casos, mantendo os animais livres da doença durante meses. Esta vacina carrega nanopartículas com antígenos — marcadores moleculares associados às mutações genéticas mais comuns do ADP, como as alterações no gene KRAS — que ajudam o sistema imunitário a identificar e destruir as células tumorais.
Um dos aspetos mais promissores é a capacidade da vacina gerar memória imunitária, permitindo ao organismo “lembrar-se” das células cancerígenas e continuar a combatê-las. “Se conseguirmos aplicar isto em doentes, poderemos prevenir o ADP antes do aparecimento dos tumores. As vacinas poderão ser terapêuticas ou preventivas”, explica.
A vacina é administrada em três doses e poderá ser usada tanto no tratamento do cancro do pâncreas como na sua prevenção, especialmente em doentes com alto risco. A imunologista Li Lily Wang, coautora do estudo, reforça o potencial da vacina: “Esta plataforma tem o poder de transformar o tratamento clínico desta doença devastadora, ao provocar respostas fortes das células T, que normalmente são escassas e incapazes de controlar o tumor”, pode ler-se no ZME Science.
Para aumentar a eficácia, os investigadores planeiam combinar a vacina com um inibidor do ponto de controlo imunitário, medicamento que impede as células tumorais de desligar a resposta imunitária. Esta combinação já mostrou sucesso noutros tipos de cancro e poderá potenciar ainda mais a vacina contra o ADP.
Apesar do sucesso nos estudos pré-clínicos, o caminho para os ensaios clínicos em humanos é longo e incerto. O projeto recebeu recentemente um financiamento de 3,27 milhões de dólares do Instituto Nacional do Cancro dos EUA, que permitirá avançar para testes mais aprofundados de segurança e monitorização avançada dos efeitos.
Este apoio financeiro é fundamental para a investigação experimental, que exige anos de desenvolvimento, testes rigorosos e ensaios clínicos dispendiosos. Sem financiamento sustentado, até as ideias mais inovadoras podem não chegar aos doentes.
A equipa multidisciplinar inclui especialistas em cirurgia, patologia e imunologia, todos ligados ao Case Comprehensive Cancer Center. A esperança é que este trabalho pioneiro ofereça, finalmente, uma forma eficaz de travar o cancro do pâncreas antes do seu desenvolvimento.
Os resultados finais ainda não foram publicados nem revistos por pares, mas a equipa prevê divulgar as conclusões assim que os testes pré-clínicos forem concluídos.
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