Saúde

“Unhas da recessão”: A tendência que revela o aperto financeiro

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 2 meses atrás em 24-06-2025

Uma recessão acontece quando a economia desacelera: pessoas perdem empregos, os preços sobem e os gastos caem. Mas, para além destes efeitos conhecidos, a crise económica também se manifesta de formas inesperadas — como nas unhas. Com a escassez de dinheiro, manicures longas e elaboradas dão lugar a unhas curtas e simples, uma moda que já está a ser apelidada de “unhas da recessão”.

O termo ganhou destaque nas redes sociais depois de Bryce Gruber, editora de comércio de longa data, ter partilhado um vídeo viral no TikTok, revelando que grandes marcas de beleza estão a mudar o foco — e os orçamentos publicitários — para promover unhas curtas e bem cuidadas. “O dinheiro está curto para muita gente agora — as pessoas estão a optar por looks de baixa manutenção”, disse ela à Newsweek.

Esta ideia não é nova. Em tempos de crise, pequenos luxos tornam-se indicadores do humor do consumidor. Na década de 2000, Leonard Lauder, então presidente da Estée Lauder, criou o conceito do “índice do batom”, observando que as vendas de batom aumentam quando os consumidores não podem investir em maiores luxos. Economistas já apontaram outros indicadores peculiares, como o “índice de roupa interior masculina” ou o comprimento das saias, como sinais reveladores de instabilidade económica.

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Mais recentemente, um “índice da fada do dente” ganhou atenção: à medida que as preocupações financeiras aumentam, a fada do dente torna-se menos generosa. Agora, o que se chama de “teoria das unhas” parece ganhar força. Publicações como a Harper’s Bazaar e a ELLE Austrália apontaram as unhas curtas como o estilo dominante em 2025, numa mudança drástica das unhas longas e acrílicas para formatos mais naturais, quadrados ou “squoval” (quadrado-oval).

As marcas e plataformas de beleza já estão a adaptar o seu conteúdo e produtos a esta nova preferência.

Para quem acha que esta tendência é apenas uma “vibração” cultural, a economia está cheia delas. Economistas monitorizam as “vibrações económicas” que podem tornar-se profecias autorrealizáveis — um fenómeno que até tem nome: “vibecessão”. Quando um número suficiente de pessoas e empresas muda de comportamento, a economia acaba por seguir o mesmo caminho.

As “unhas da recessão” não refletem diretamente a economia, mas indicam uma mudança no comportamento do consumidor. Com o aumento da inflação e a incerteza financeira, as pessoas procuram rotinas de beleza mais económicas e práticas.

Nem todos os especialistas concordam que manicures possam ser indicadores económicos fiáveis. O economista Christopher Clarke comentou ao HuffPost que “tem a ver com a sazonalidade das preferências humanas”. Para ele, tendências culturais não substituem dados sólidos, como taxas de desemprego e investimento.

No entanto, num mundo dominado por redes sociais e microtendências, o sentimento público torna-se mais visível nos comentários online do que nas tabelas económicas.

No plano económico, a situação é ambígua. Muitas empresas do S&P 500 mencionaram “recessão” nas suas teleconferências entre março e maio de 2025, refletindo a preocupação crescente dos líderes empresariais. A instabilidade económica global, a subida das taxas de juro e as incertezas associadas às políticas comerciais do segundo mandato do presidente Donald Trump têm gerado nervosismo nos mercados.

Por outro lado, alguns especialistas apontam para a estabilidade do emprego e a continuação dos gastos dos consumidores como sinais de que a recessão poderá ser evitada. O JP Morgan estima a probabilidade de recessão em 40% até ao final do ano, lê-se na ZME Science.

O apetite pelo minimalismo cresce em várias áreas: estética clean, glamour suave, maquilhagem discreta e “luxo moderado”. As “unhas da recessão” podem ser a nova moda, mas também representam uma realidade de orçamentos apertados, prioridades ajustadas e uma indústria da beleza a aprender a vender a moderação.

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