A luta pela justiça social não pode ser comparada a ações que pretendem suprimir liberdades. Dizer que os extremos se tocam é um lugar-comum confortável, que agrada em particular a quem prefere não se posicionar e manter-se naquele meio-termo que nada muda e vai corroendo a sociedade. Mas há momentos em que não nos podemos dar a esse luxo.
Quando se fala de restringir a luta por equidade e, simultaneamente, se assiste à desvalorização a opressão da diferença, é bom lembrar que não há qualquer equivalência entre quem luta por direitos e quem quer apagar direitos.
Há uma assimetria radical entre a extrema-direita e aquilo a que hoje chamam extrema-esquerda, que não se desfaz com malabarismos retóricos nem com apelos à moderação.
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A violência fascista é, por definição, cobarde: vem em bando, pelas costas, e torna-se já insuportável esconder que, muitas vezes, também com farda ou com proteção institucional. Já a força dos movimentos sociais, mesmo quando ilegais, foi quase sempre a semente de conquistas que hoje tomamos por garantidas: o voto, a greve, a reunião, a associação.
As relativizações, que escutamos a políticos, comentadores e jornalistas sem que quem as enuncia seja capaz de apontar exemplos concretos dessa correspondência de ações «dos dois lados», são um dos maiores perigos dos nossos tempos.
Os que equiparam «os extremos» raramente gritam contra os agressores. E muitas vezes até se sentam com eles em debates televisivos, com a desculpa de que é preciso ouvir todas as vozes. Mas há vozes que não querem ser ouvidas – querem mandar calar.
O que está em causa não é uma divergência ideológica, é a tentativa de confundir resistência com violência, protesto com ameaça. Não se trata de «ambos os lados»: trata-se de saber de que lado se está.
Quando um dos extremos luta por direitos e igualdade, enquanto o outro agride para defender o privilégio e o silêncio, não há forma nenhuma de dizer que os extremos se tocam!
OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO
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