A tradição da Transumância da Serra da Estrela passou a integrar o Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por proposta do Departamento de Bens Culturais do Património Cultural, com o objetivo de “salvaguardar a sua viabilidade futura”.
O pedido de inscrição desta prática, que consiste na subida dos rebanhos de ovelhas para os pastos da montanha durante o Verão, foi apresentado pela Comunidade Intermunicipal Região das Beiras e Serra da Estrela (CIMRBSE).
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A inscrição da Transumância da Serra da Estrela no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi publicada, hoje, no Diário da República, num despacho assinado por João Soalheiro, presidente do Conselho Diretivo do Património Cultural.
A decisão é justificada pela “importância da prática enquanto reflexo identitário das comunidades, grupos e indivíduos envolvidos; a relevância da sua dimensão histórica, social e cultural nas áreas territoriais em que se insere e o valor acrescido que transporta para o desenvolvimento sustentável nos territórios onde se pratica”.
“O atual contexto de transmissão dos conhecimentos associados e a necessidade de implementação de medidas de salvaguarda com vista à viabilidade futura” da transumância da Serra da Estrela são outros argumentos invocados no despacho.
Segundo a ficha inventário, que a agência Lusa consultou, a transumância é uma “prática pastoril de montanha cíclica para superar os desafios da orografia e assegurar segurança alimentar e bem-estar social através da mobilidade sazonal e vertical do gado”.
Os proponentes realçam que esta tradição continua ativa na metade centro-sul da Serra da Estrela, nos municípios de Seia, Gouveia e Manteigas, no distrito da Guarda, e Covilhã (distrito de Castelo Branco), e “é pautada por quatro momentos: as romarias, a subida, a serra e a descida, e culmina com a permanência dos rebanhos e pastores na serra durante o período do verão”.
“A transumância da Serra da Estrela é a última ainda ativa de forma comunitária no país. Ela diferencia-se da prática das brandas de verão das serras da Peneda e do Gerês, caracterizada pela translação completa da exploração pastoril e residência da família para formar pequenos núcleos de povoamento em altitude durante o período estival”.
A ficha de inventário refere ainda que Seia é, atualmente, o principal foco desta prática com a existência de “uns sete grupos transumantes ativos que reúnem aproximadamente 20 pastores para quase quatro mil animais”.
Já em Gouveia, há dois grupos ativos que reúnem cerca de seis pastores e mais de mil animais.
Na Covilhã foram identificados três grupos com cerca de seis pastores para 300 animais, e, em Manteigas, há uma família que ainda pratica uma transumância de inverno.
“É importante destacar a presença de um rebanho de Oliveira do Hospital [distrito de Coimbra] que pratica a transumância associado a um grupo de Seia. Há pastores que praticam a transumância individualmente e não pertencem a grupos transumantes”, lê-se ainda.
A CIMRBSE acrescenta que a transumância é “uma prática transmitida de geração em geração pelas comunidades para responder aos desafios da orografia da Serra da Estrela desde o Neolítico”.
“Ela reflete o cuidado e respeito que os pastores possuem com os seus animais, a paisagem e a herança familiar. (…) A transumância é, assim, uma forma de ritual cíclico de purificação dos animais e regeneração dos solos”.
A transumância é, ainda, “o reflexo do compromisso das comunidades com as histórias de família. A maioria dos pastores transumantes descende de uma linhagem pastoril. (…) Continuar a transumância é respeitar essa memória”, conclui a CIMRBSE.
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