Saúde

Sim, os cérebros humanos estão a encolher

NOTÍCIAS DE COIMBRA | 3 dias atrás em 02-06-2025

Imagem: depositphotos.com

Durante milénios, os cérebros humanos foram crescendo, acompanhando o nosso desenvolvimento como espécie. Mas agora, os cientistas enfrentam um enigma biológico: os cérebros dos Homo sapiens modernos são, em média, 13% mais pequenos do que os dos nossos antepassados que viveram há 100 mil anos. O que terá acontecido?

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A ideia de que o cérebro grande é o que distingue os humanos dos restantes animais sempre foi vista como um ponto assente. A inteligência, a capacidade de pensar simbolicamente e a inovação — das primeiras pinturas rupestres à conquista do espaço — foram atribuídas a esse impressionante volume cerebral. No entanto, evidências recentes sugerem que, pelo menos em termos de tamanho, o cérebro humano pode ter atingido o seu pico… e iniciado uma lenta regressão.

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Um estudo conduzido pelo paleoantropólogo Ian Tattersall revela que esta tendência de redução começou há cerca de 100 mil anos. Tattersall defende que essa mudança poderá estar relacionada com o surgimento da linguagem simbólica, que terá levado a uma reorganização das ligações neuronais, permitindo cérebros menores, mas mais eficientes do ponto de vista metabólico.

“Os nossos antepassados processavam informação com força bruta”, diz o investigador. “Hoje, pensamos em símbolos, conceitos e hipóteses. Isso exige ligações mais complexas e eficientes — não necessariamente mais volume.”

Mas nem todos concordam. Jeff Stibel, cientista cognitivo, encontrou uma correlação entre a diminuição do cérebro humano e o aquecimento global, com os primeiros sinais de encolhimento cerebral a surgirem há cerca de 17 mil anos, após o fim da última era glacial. Segundo Stibel, um cérebro mais pequeno poderá ter evoluído como mecanismo de adaptação ao calor: consome menos energia e gera menos calor interno.

Outras teorias apontam a transição da caça-recoleção para sociedades agrícolas e organizadas como fator decisivo. Jeremy DeSilva sugere que, à medida que surgiram civilizações mais complexas, as tarefas começaram a ser divididas e o conhecimento passou a ser partilhado, reduzindo a necessidade de cada indivíduo saber tudo para sobreviver.

Há também quem defenda que a domesticação da nossa própria espécie poderá estar envolvida. Tal como cães e gatos domesticados têm cérebros mais pequenos que os seus ancestrais selvagens, talvez a evolução de humanos mais pacíficos e cooperantes tenha contribuído para a mesma tendência.

Contudo, existem muitas dúvidas. O registo fóssil não é suficientemente detalhado para definir com precisão o momento em que começou a redução do cérebro. Além disso, fatores como nutrição deficiente, desigualdade social ou doenças podem ter tido um impacto relevante no crescimento cerebral ao longo das eras.

E o que isto significa para a nossa inteligência? Nem tudo está perdido. Ainda que os cérebros estejam menores, isso não implica automaticamente uma redução nas nossas capacidades cognitivas. Afinal, vivemos numa era em que a informação é armazenada em máquinas e onde a tecnologia nos permite “externalizar” parte do raciocínio, pode ler-se na BBC.

“O cérebro pode estar a fazer menos sozinho, mas a espécie como um todo está a fazer mais do que nunca”, sublinha Stibel.

No fim de contas, o mistério mantém-se. Os cérebros encolheram. A inteligência, essa, talvez apenas tenha mudado de forma.

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